Jornal da Praceta
 

Informação sobre a freguesia de Alvalade 

 

Editorial

Lisboa Deserta

Um dos maiores problemas de Lisboa é sem dúvida nenhuma a sua desertificação. As estatísticas estão aí para demonstrar esta contínua hemorragia da sua população. Após a debandada dos que aqui trabalham durante o dia, a cidade fica deserta. As ruas tornam-se inseguras. Apenas os centros comerciais e algumas zonas restritas conhecem certa animação. 

O hábito de passear à noite nas ruas e jardins dos bairros desapareceu.  A população envelheceu e não houve renovação, pelo contrário, as novas gerações foram expulsas para a periferia, assim como aqueles que vieram com a intenção de nela se fixarem. Centenas de milhares dos que o fizeram instalaram-se em barracas e habitações em ruína por toda a cidade.  As causas deste fenómeno  são bem conhecidas, assinalemos apenas três: 

1. A falta de alojamento a preços acessíveis. Os preços da habitação atingiram sobretudo nos anos setenta e oitenta preços incomportáveis para os rendimentos da maioria da população;  

2. As rendas limitadas das habitações mais antigas desincentivaram os senhorios da conservação dos edifícios, mas também retiraram ao Estado autoridade para exigir obras. O resultado foi a rápida diminuição das casas para aluguer, a ruína e degradação das existentes. 

3. A transformação de edifícios de habitação em escritórios, pequenas oficinas, com a anuência dos serviços camarários. 

A tudo isto junta-se agora um fenómeno relativamente recente. A poluição atmosférica e sonora. O ar da cidade atinge, em certas zonas, níveis de perigosidade para a saúde pública. O ruído tornou-se uma constante a qualquer hora do dia ou da noite. Automobilistas, camionistas, motociclistas e à noite os serviços camarários de limpeza todos competem para ver quem faz mais barulho. O aumento do tráfego aéreo que sobrevoa a cidade agravou o problema. Não há vidros duplos que resistam a semelhantes agressões, em particular nas principais artérias. A única solução é mudar mesmo de local de residência. Perdeu-se aliás o próprio conceito de zona residencial, como um espaço de descanso e lazer. Estamos perante uma dimensão do problema cuja solução está ao alcance da CML assim haja vontade política.

Carlos Fontes

Director do Jornal da Praceta

Outubro 2001

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Contrastes

Lisboa possui no contexto europeu dois traços que a singularizam como cidade e que fascinam o visitante, mas nem sempre os que nela vivem.  

O primeiro é a forma irregular como se desenvolvem os volumes das suas ruas. Uma casa de piso térreo coexiste com um prédio de uma dezena ou mais de andares. Ao lado de um pequeno edifício com interesse histórico ergue-se uma imponente e agressiva  urbanização sem ter em conta o espaço envolvente. Esta situação que para muitos é interpretada como a ausência do mais elementar planeamento e gestão urbanística, para outros é uma forma subtil de multiplicar as colinas históricas da cidade perpetuando a sua silhueta irregular.

O segundo aspecto fascinante são os inúmeros contrastes que em cada rua, cada esquina se podem descobrir. Ao lado de um prédio recentemente construído, subsistem as ruínas habitadas de três ou quatro. A fachada de um antigo palácio dá para um bairro de casas há muito abarracadas. Junto a uma zona nova da cidade onde se concentram todas as atenções, incluindo dos serviços camarários, existe uma outra na mais completa degradação e imundície. O turista fica fascinado com a situação, pois não a espera encontrar numa capital europeia. 

Quem vive em Lisboa faz uma outra leitura desta situação, pois  tem uma única certeza: se quiser viver numa rua limpa e sem situações de degradação  consentidas ou induzidas pela CML, tem que andar sempre a mudar de casa e de sítio na cidade. Até quando  esta situação irá persistir? Quando teremos serviços  camarários a funcionar com regularidade, eficácia e eficiência em toda a cidade?   

Carlos Fontes

Junho de 2001

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Tudo começou assim

Em fins de Junho de 2001 iniciamos a publicação on-line do Jornal da Praceta. 

"Os objectivos iniciais - a divulgação da luta dos moradores da Rua José Lins do Rego -  mantém-se de pé, mas o movimento adquiriu uma nova dimensão. 

Muitos moradores das  freguesias de Alvalade, Campo Grande e S. João de Brito não apenas nos manifestaram o seu apoio, como também apelaram para que divulgássemos outras lutas,protestos e informações. 

Aquilo que era uma jornal de uma praceta, tornou-se rapidamente num jornal de bairro e depois de três freguesias.  Algumas mudanças foram introduzidas no conteúdo do jornal para dar conta destas novas preocupações. Neste processo descobrimos uma história e problemas comuns. 

A decisão sobre o âmbito deste jornal ainda não está tomada. Uma coisa é certa, com esta forma ou outra,  Jornal da Praceta será sempre um orgão ao serviço dos moradores de Lisboa." Editorial de Janeiro de 2002.

 

   
   
 
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