Jornal da Praceta

Informação sobre a freguesia de Alvalade

(Alvalade, Campo Grande e São João de Brito )

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Cesário Verde em Alvalade

Um grupo de alunos da Escola Secundária Rainha Dona Leonor, no final do ano lectivo de 2017/8, andou pelas ruas e mercados de Alvalade. Com o "Livro de Cesário Verde", lendo um poema aqui e ali, foram vendo as coisas com outros olhos e sentiram odores tão intensos que lhes será dificil esquecer.

 

De Tarde

Naquele "pic-nic " de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.

 

Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão-de-bico

Um ramalhete rubro de papoulas.

 

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o sol se via;

E houve talhadas de melão, damascos,

E pão de ló molhado em malvasia.

 

Mas, todo púrpuro, a sair da renda

Dos teus seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda

O ramalhete rubro das papoulas !

Cesário Verde

Papoulas num logradouro em Alvalade

Hortas urbanas em Alvalade

 

Flores....

Trapadeiras....

Buganvílias.... Nespereiras....

"Súbitamente - que visão de artista! -

Se eu transformasse os simples vegetais

À luz do sol, o intenso clorista,

Num ser humano que se mova e exista

Cheio de belas proporções carnais?!"

in, Num Bairro Moderno, Cesário Verde

Voltamos ao Mercado de Alvalade, às frutas, hortaliças...

"Que de fruta! E que fresca e temporã,

nas duas boas quintas bem muradas,

em que o Sol nos talhões e nas latadas

bate de chapa, logio de manhã !

 

O laranjal de folhas negrajantes,

(porque os terrenos são resvaladiços )

desce em socalcos todos maciços,

como uma escadaria de gigantes.".

in, Nós, Cesário Verde

 

... e voltamos também à rua para apreciar os limões !

   
 
 

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Cesário Verde (1855-1886)

Poeta da cidade, nos seus percursos por Lisboa, pinta-a com palavras, o que vê, pensa e imagina.

Nasceu em Lisboa. Era filho de um rico comerciante de ferragens, com loja na rua dos Bacalhoeiros, e tinha em Lida-a-Pastora uma quinta com um magnifico pomar.

As suas poesias foram reunidas, depois da sua morte, por Silva Pinto - "Livro de Cesário Verde", 1887.

 

 

"Um clássico da Modernidade: Cesário Verde

Na história da poesia da cidade os poemas típicos de Cesário são algo inteiramente novo, pelo amor juvenil e constante à realidade concreta, vista com os olhos de artista plástico, transposta em séries de instântaneos claros, exactos, flagrantes.(...)

 

"Mas, artista, em Cesário como em Baudelaire, não é o que se limita a copiar o real, é o homem de imaginação privilegiada que dá um sentido às coisas e cria, a partir do concreto, uma super-realidade.", Jacinto do Prado Coelho, Problemática da História Literária.