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1971: Luiz Villas-Boas

 

 

Se fosse vivo, Luís Villas-Boas (1924-1999) estaria certamente hoje no combate contra aqueles que na freguesia onde morou, na Avenida Rio de Janeiro, pretendem branquear a Ditadura (1926-1974). Sindicalista, nomeadamente do sindicato da marinha mercante, aeronaves e pescas, e do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos, era um homem de mente aberta. Foi cofundador de Hot Clube de Portugal (1948), infatigavel promotor do jazz em Portugal. Quando em 1971 irrompeu com renovada força, a canção de protesto contra a ditadura, promoveu com  João Braga e Hugo Lourenço, o 1º. Festival Internacional de Jazz de Cascais, de 20 e 21 de Novembro, ao qual assistiram mais de 10 mil espectadores, a maioria dos quais jovens.

O Jazz estava associado à música dos negros, escravizados e oprimidos. Era impossivel fugir a esta ligação que os jovens faziam entre esta música a luta dos negros que combatiam em África pela sua libertação do domínio colonial português. Neste ano de 1971, a UNESCO que apoiava a luta destes movimentos declarou-o Ano Internacional da Luta contra o Racismo e a Discriminação Racial, levando a ditadura a sair desta organização das ONU.

O festival tornou-se rapidamente num espaço de protesto contra a ditadura e a guerra colonial. O mote foi loigoi lançado quando o músico norte-americano Charlie Haden, contrabaixista, compositor e activista político, duranet a sua actuação do quarteto Ornette Coleman, dedicou o tema Song for Che aos movimentos de libertação das colónias. Os aplausos foram ensurdecedores. Nas bancadas foram mostrados dois panos com as inscrições: "Guiné Livre" e "Abaixo a guerra colonial", o que revelava que havia quem na assistência sabia ao que vinha. No dia seguinte foi preso pela policia política, sendo depois entregue à embaixada dos EUA. O caso teve repercussão mundial. Charlie Haden conseguiu esconder da polícia política a gravação de Song for Che, incluindo-a mais tarde em For Free Portugal, no disco Closeness duets (1976).

O Festival de Jazz de Cascais voltou a ser realizado em 1972 e 1973, e apesar da vigilância da polícia, não deixou de ser um espaço de contestação do regime.

Festival de Vilar de Mouros (7 e 8 de Agosto de 1971). Foi considerado o "Woodstock" português, onde estiveram presentes mais de 30 mil pessoas, maioritariamente jovens de Lisboa que no norte do país pelo seu comportamento e ideias difundiram ventos de revolta e mudança.

Canções de Intervenção

Os anos de 1971 e 1972 constituiu um do período de excepcional na produção da música de protesto em Portugal. 

  

José Afonso, também em 1971, lança em França o album Cantigas de Maio, com canções como "Grandola, Vila Morena". Os arranjos são de José Mário Branco. No ano de 1972 José Afonso lança Eu Vou ser como uma Toupeira, a que se seguirá em 1973 Venham mais Cinco.

 

José Mário Branco (exilado em França), lança também em 1971, Mudam-os Tempos, Mudam-se as Vontades. Gravado em França, foi apresentado no dia  27 de Novembro de 1972 no Cinema Roma, juntamente com dois outros albuns, um de Sérgio Godinho e outro de José Jorge Letria. O programa radiofónico Página Um transmitiu o lançamento em direto. Tinha letras de Sérgio Godinho (três), Natália Correia (Queixa das almas jovens censuradas), Alexandre O'Neil e Luís de Camões.

Adriano Correia de Oliveira (exilado em França), lança o album Gente de Aqui e de Agora,  no qual se inclui canções como "Emigração".

Manuel Freire, lançam em 1971, o EP Dulcineia  EP "Dulcineia" e o álbum "Manuel Freire", onde se incluem temas como a "Pedra Filosofal".

Tino Flores (exilado em França) lança em França "Viva a Revolução", a que se seguirá em 1972 Organizado o Povo é Invencíve. Discos produzidos de forma rudimentar, constituem um vibrante apelo à luta contra a ditadura e a guerra colonial.

Sérgio Godinho (exilado em França), fruto da Colaboração com José Mário Branco, lança em 1972 Os Sobreviventes, com temas como "Que Força é essa" ou "Descansa a Cabeça (estajadeira)".

José Jorge Letria, em 1972, lança o album Até ao Pescoço, onde surge a canção "Arte Poética".

Luis Cilia (exilado em França), dita La Poesia Portugaise de nos Jours et de Toujours 3, em 1972, entre as canções aparece a "Fala do Homem Nascido", de António Gedeão.

Francisco Fanhais, depois de em 1970 lançatr em Portugal o album Canções da Cidade Nova, ve-se obrigado no ano seguinte a exilar-se em França .