Ciganos,
Sapos e Comerciantes Os comerciantes do Campo
Grande queixam-se que são frequentemente roubados. Nada disto seria
noticia não fossem os mesmos terem desenvolvido um inovador expediente para
diminuírem os roubos, colmatar a falta de policiamento e afastar aqueles
que são apontados como os potenciais larápios: os portugueses de etnia
cigana. A sua grande e ingénua
inovação foi espalharem sapos pelas lojas. Há nas lojas do Campo Grande
sapos de todos os tipos: em plástico, cerâmica ou até em simples
reproduções de fotocópia. Afirmam que os ciganos acreditam (? ) que lhes
dá azar se roubarem após terem visto um sapo.
Estamos obviamente
perante uma atitude claramente discriminatória, na medida que identifica
todo e qualquer cigano como um potencial ladrão. Isto mesmo o constatou uma
jornalista do Público (13/1/2004) quando entrevistou vários
comerciantes da Avenida do Brasil.
O problema é todavia
mais profundo. É um facto que a comunidade cigana residente nesta zona da
cidade de Lisboa é sistematicamente apontada como estando envolvida
distúrbios, roubos, agressões físicas contra os empregados e donos dos
estabelecimentos comerciais e muitos outros actos condenáveis. Apesar disto
são poucas as queixas apresentadas à
polícia. Algumas das suas vítimas disseram-nos que se não apresentaram
queixa foi porque ou têm medo das represálias, ou acham que não serve de
nada: "A polícia não actua". Esta é uma dimensão do
problema que não pode ser escamoteada.
A outra dimensão, quanto a nós a mais grave
de todas, diz respeito ao problema da integração desta comunidade. O
Bairro das Murtas era antes dos realojamentos um dos
"supermercados" da droga na cidade de Lisboa. Ainda está na
memória dos moradores da zona, as mediáticas rusgas policiais aqui
efectuadas. Embora conhecendo
estes antecedentes, os serviços públicos limitaram-se a financiar a construção de casas para
realojar esta comunidade na Rua das Murtas, mas não pensaram num projecto
para a sua inserção social e profissional. Nem sequer tentaram estabelecer um
diálogo os ciganos e os restantes moradores. Resultado: a desconfiança
mantém-se. Ora se este trabalho de integração social não for realizado os
problemas tendem a persistir, senão mesmo a agravarem-se.
Carlos Fontes
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