Coruchéus - Teatro no Bairro

A ideia é animar os ateliês do Complexo de Artes Plásticas dos Coruchéus, e por arrasto a Biblioteca e a Galeria Quadrum. Desiluda-se quem pensa que na sala 2 vai surgir um novo teatro em Lisboa. Luis Ramos, "animador" deste espaço, prefere dizer que estamos perante um conceito alargado de "teatro", destinado a acolher performances, exposições de pintura, debates, leituras de textos, alguns momentos musicais e apontamentos cénicos para crianças. O espaço, 80 metros quadrados, é diminuto e sem condições técnicas para outras aventuras.Foto: 9/11/2023

A exposição de pintura de Batu Behram, o primeiro evento de abertura, era aguardada com alguma expectativa. Este artista cipriota, arquitecto de formação, prometia agitar os Coruchéus, ao proclamar que vinha reflectir sobre o espaço público e a sua apropriação. Numa tirada vagamente inspirada na revolta de "Maio de 68", o propecto da exposição proclam: "Reclamar a Rua é um ato de rebelião". A exposição que abriu no dia 11 de Novembro e foi neste aspecto frustrante. 

A porta abriu e rapidamente encheu-se. Era dificil para os visitantes descortinarem nas obras de Batu Behram , espalhadas pelas paredes da sala, os propósitos de rebelião anunciados no programa desta exposição. A  "discussão sobre a apropriação do espaço público como local para fruir e estar" não ocorreu. A definição do "espaço público como pertença de uma comunidade e de um colectivo, mas que em si é também uma extensão do individuo", destacada no prospecto que foi distribuido era algo desligado do evento.  O resultando foi que ninguém prestou muita atenção às pinturas e palavras que decoravam a sala.     

A sala com a mesma rapidez que se encheu ficou vazia. A tarde estava excelente para um convívio no exterior e a CML fez questão de oferecer aos presentes bebidas, salgadinhos e castanhas (São Martinho assim o exigia). Foi então que na sala vislumbramos a possivel ligação à temática da apropriação espaço público: obras e palavras foram espalhadas pelas paredes de modo a ocupar o máximo espaço possivel.   

 

Indiferentes à reflexão sobre o espaço público de Batu Behram, quem por lá apareceu de imediato  procurou usufruir da limpeza do espaço que nos últimos dias a CML andara a fazer.  O estado em que se encontrava era lamentável. O parque infanti, como testemunhamos estava ao abandono repleto de lixo.

Batu Explica-se

No dia 17 de Novembro, cerca de 16 pessoas voltaram ao "Teatro de Bairro" para ouviram Batu Behram explicar a sua obra. Não era dificil perceber que estavamos perante um típico problema da arte contemporânea: uma coisa é a obra material, seja ela qualquer for, e a outra o discurso que pode ser elaborado sobre a mesma. Nem sempre é evidente a correspondência . Em muitos casos a obra material nem sequer existe ou é completamente secundária, o importante é o discurso que o artista concebeu. Batu Behram explora esta corrente discursiva ( conceptual).

Ao fim de rigorosos trinta minutos o discurso do artista terminou. Uns passaram a ver em pedaços de material recolhido na rua palavras ocultas, intenções ou propósitos que lhes haviam sido revelados. Outros, interrogam-se sobre os caminhos seguidos pela arte contemporânea desde o movimento Dada (1914). Fotos: 17/11/2023