Murtas
O chamado
"Bairro" da Azinhaga das Murtas
ou simplesmente das Murtas é
revelador da forma como as diversas entidades públicas encaram a questão
da integração social de grupos sociais problemáticos. Na maioria dos
casos limitam-se a
realojar comunidades carenciadas ou desestruturadas esquecendo a questão da sua
efectiva integração social.
Durante anos
existiu no local um problemático bairro de barracas cuja maioria dos
habitantes era de etnia cigana. As Murtas foram durante as décadas de 80 e
90 um dos principais centros de tráfico de droga e de criminalidade da cidade de
Lisboa. A Paróquia do
Campo Grande, com o apoio do Estado e da CML, em 2001, promoveu o
realojamento no local dos habitantes deste problemático bairro de barracas.
As condições de vida dos moradores melhoram consideravelmente, mas acontece
que os problemas sociais persistiram, continuando as queixas do costume.
1. Tráfico
de Droga. A maioria
dos moradores do Campo Grande e
Alvalade continua a atribuir às Murtas a origem do tráfico de droga que
prolifera nestes bairros, assim como a criminalidade que lhe está
associada.
2. Assaltos a
Estabelecimentos. Na
zona das Murtas a maioria dos proprietários dos estabelecimentos
queixa-se de continuos assaltos e agressões. O facto tem provocado a
debandada de muitos comerciantes e de moradores. O comércio local
está a desaparecer. O Centro Comercial Brasília foi uma das grandes
vítimas deste processo.
A onda de
assaltos com origem em indviduos das Murtas provocou em 2003 e 2004
uma estranha moda nos estabelecimentos do bairro. Muitos logistas decidiram decorar as
suas lojas com sapos. O seu objectivo era afuguentar os clientes de
etnia cigana a quem acusavam de roubos e agressões (cfr.Público (13/1/2004). O caso acabou por ser denunciado pela
comunicação social como uma manifestação racista, mas o problema dos
assaltos e roubos persistiu.
3. Roubos.
As estatísticas demonstram que o Campo Grande continua a ser uma das zonas
mais perigosas da cidade de Lisboa. O dedo acusador é apontado às Murtas,
o que é um claro exagero.
Existe a percepção que
o realojamento (Setembro de 2001) em nada mudou práticas e hábitos
anteriores. Na verdade dois meses depois do realojamento as Murtas já eram notícia pelos piores motivos. Em Dezembro de 2001, uma
viatura furtada nas Murtas aparece envolvida num atropelamento mortal na Av.
Gago Coutinho.
Os alunos das
escolas secundárias da zona queixam-se que bandos oriundos das Murtas
continuam com as suas práticas criminosas.
4.
Agressões. Moradores e donos dos estabelecimentos do Campo Grande
queixam-se de agressões que terão sido vítimas por parte dos moradores
das Murtas, a quem acusam de agirem numa total impunidade face à Lei.
Muitas destas histórias são exageradas e sem grande fundamento. Bandidos
oriundos de outros bairros
de Lisboa ou dos arredores da cidade
tem dado o seu contributo para aumentar a má fama das Murtas. Em Agosto
de 2002, por exemplo, um individuo sequestrado algures na cidade de
Lisboa aparece abandonado no local.
5. Venda
Produtos Roubados ou Contrafeitos.
As Murtas tem sido também associadas a um verdadeiro mercado de produtos
ilícitos. Em Setembro de 2003 a comunicação social dava conta que as Murtas se
estavam a tornar numa verdadeira feira de produtos roubados ou contrafeitos.
Alguns dos clientes deste "mercado" acabavam igualmente por ser
roubados. O que falhou ?
O processo de realojamento
das Murtas demonstra que não basta construir casas e realojar pessoas para
acabar com os problemas da marginalidade, se não se põe em prática uma efectiva
política de integração social.
No "Bairro" das
Murtas descurou-se praticamente tudo, incluindo a limpeza da zona. A
Câmara Municipal de Lisboa (CML) esqueceu-se de resolver questões
elementares como o arranjo dos espaços envolventes das casas, criando
espaços de recreio para as crianças e de convívio para os
adultos. As Murtas estão rodeadas de lixo, restos de construções em ruina
e viaturas abandonadas onde se acoitam todo o tipo de marginais.
Não se teve em conta a
necessidade de se formarem agentes de acompanhamento da comunidade cigana, nomeadamente
darem apoio à inserção das crianças nas escolas e a inserção dos adultos no mercado de
trabalho. Sem este trabalho de base nenhum avanço significativo será
conseguido. .
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