Jornal da Praceta

FUNDADO EM JUNHO DE 2001

Informação sobre a freguesia de Alvalade

( Campo Grande, São João de Brito e Alvalade)


EDITORIAL

 

Sinais dos Novos Tempos

Num ano em que se comemoram os cinquenta anos do regresso de um regime democrático a Portugal, os sinais dos novos tempos não deixam de ser preocupantes. Quem viveu durante a Ditadura e desejava a Liberdade, aprendeu que o grande inimigo da mesma são a apatia, o conformismo, a ausência de espírito critico e o alheamento da coisa pública. Estas foram algumas das razões que mantiveram uma ditadura durante quase meio século. Se é dificil imaginarmos hoje o regresso a uma ditadura em Portugal, a integração na União Europeia assim o impede, nem por isso deixamos de ter movimentos políticos de extrema direita ou populistas que a defendem. Os argumentos que usam, como sempre, são meramente instrumentais (insegurança, injustiças, identidade nacional, corrupção, etc), a que se junta um bode expiatório (judeus, ciganos, imigrantes, etc). Apresentados de forma simples e directa, exploram sentimentos básicos, como o medo, a inveja de  uma massa da população apática que anseia obedecer para não pensar, e desta forma é usada por aqueles tem como  objectivo a conquista do poder e o acesso aos recursos públicos que o mesmo proporciona. Não há novidades neste campo, apenas sofisticação.

Esta curta reflexão ocorreu-me quando revisitava textos da primeira república (1910-1926), em que descreve intervenções das forças armadas e das polícias na criação de um ambiente de insegurança na sociedade, através de continuos golpes militares, assassinatos, vagas de prisões arbitrárias e deportações para as colónias. Neste período ocorreram 42 golpes militares, incluindo as incursões monárquicas. O golpismo acentuou-se depois da Grande Guerra (1914-1918). Sempre que se sentiam injustiçados, usavam os meios que o monopólio da força do Estado lhes concede, acabado por banalizara este recurso .  A administração das colónias foi entregue aos militares. Depois de 1918 a sua presença nos diversos governos foi-se acentuando. Até 1926 doze dos vinte e seis Ministérios (46%) eram presididos por militares. No período anterior (1910-1918) o seu número foi muito inferior (15%) . A 28 de Maio de 1926 instauraram durante sete anos uma Ditadura Militar. Seguiu-se depois o Estado Novo (1934-1974), mas ninguém se atreveu a  mexer nos privilégios dos militares e das políciais.

Sinal dos novos tempo, na freguesia de Alvalade, desde Setembro de 2021, temos na assembleia de freguesia elementos que representam este tipo de movimentos. Não é todavia deles que queremos falar. Pedimos à redação do Jornal da Praceta que nos facultada uma  noticia que publicaram de uma manifestação de jovens preocupados com a sobrevivencia na vida na terra. Pensamos que é suficientemente esclarecedora para lhe acrescentarmos mais comentários. Dá que pensar. 

"Manifestação de estudantes à porta da Faculdade de Psicologia, na Cidade Universitária, reclamando por medidas urgentes contra a energia fóssil: Fim aos combustíveis fósseis até 2030 e eletricidade 100% renovável e acessível até 2025. Segundo estas jovens é preciso garantir que este é o úlltimo Inverno em que gás fóssil é utilizado para produzir eletricidade em Portugal. Numa bandeira alertam para um incerto futuro do planeta: "Sem Futuro não há paz". Foto: 14/11/2023.

Três jovens foram depois detidas enquanto estavam a fazer uma palestra para cerca de 80 estudantes reunidos no átrio da faculdade. Terão ficado presas na 18ª. Esquada - Campo Grande. Crédito fotográfico: https://www.facebook.com/profile.php?id=100089874948073 (Greve Climática Estudantil Lisboa). Na acção de protesto no Viaduto Duarte Pacheco, no dia 12 de Dezembro de 2023, foram detidos pela PSP 11 activistas, 6 mulheres e 5 homens, algemados durante 1o horas. Numa acção policial que visava a sua humilhação, própria de ditaduras, as 6 mulheres foram obrigadas a despirem-se totalmente duas vezes, uma na esquadra do Calvário (Alcantara) e outra no Comando Metropolitano de Lisboa, em Moscavide. Numa escalada conduzida pela extrema direita, no dia 3 de Fevereiro de 2024, o presidente do Sindicato Nacional da Policia, numa entrevista a um canal de televisão - SIC, ameaçou publicamente o governo (em gestão) que caso não cedessem as suas reivindicações, os policias poderiam derrubar o governo, impedir a realização de eleições legislativas (10/03/2024) e desencadearem acções à margem da "ordem pública" (Público, 3/02/2024). No dia em que ocorreu esta ameaça de um golpe de estado, um bando de criminosos concentrou-se no Largo de Camões em Lisboa, e numa encenação nazi a que não faltaram tochas, apelou-se à expulsão dos imigrantes muçulmanos. O objectivo inicial do bando era um confronto violento com os imigrantes no Largo do Martim Moniz e Rua do Benformoso. No dia 19 de Fevereiro 2024, centenas de policias cercaram o Teatro Capitólio, onde ocorria um debate entre entre dois lideres partidários. Uma manifestação que ocorreu à margem da lei, de que as forças policiais são garantes do seu cumprimento. Uma acção interpretada, como mais um sinal da crescente influência da extrema-direita nas forças policiais em Portugal."

A Universidade perante os desafios do Antropoceno

A Universidade de Lisboa (UL), no dia 24 de Outubro de 2023, Dia Mundial da Luta Contra as Alterações Climática, organizou um conjunto de eventos na reitoria, subordinados ao tema: A Universidade perante os desafios do Antropoceno. Mais

"Pacóvios"

"São uns pacóvios". A afirmação foi peremptória dita por uma pessoa que sempre estimei ouvir. Em Alvalade, como em qualquer outro sítio do país é um digno herdeiro da longa tradição nacional das Cantigas de Escarnio e Mal Dizer, embora depurado do vernáculo de Gil Vicente, acrescido do rico léxico de Camilo Castelo Branco temperado pela ironia do Eça de Queiróz. Observador atento das "espécies" que abundam na sociedade portuguesa, é delas um verdadeiro repositório das suas ligações e episódios envolventes, tramóias e esquemas. Não lhe escapa nada. Várias vezes tem sido convidado para escrever no Jornal da Praceta, mas o distanciamento que cultiva impede-o dessa "inútil canseira". Ao dar-nos conta das suas acutilantes impressões da Assembleia de Freguesia de Alvalade, no passado dia 19 de Dezembro de 2023, resumiu tudo numa frase "São uns pacóvios". O adjectivo pareceu-me inapropriado, quando temos um presidente que assumiu a principal missão da Junta é cultivar os moradores de Alvalade pela arte, como "acontece noutras cidades europeias". Pacóvios?, retorqui. Perante o meu ar surpreendido, persistiu na afirmação "são mesmo pacóvios". Que autarquia de qualquer cidade europeia tem cidadãos que consentiriam que um presidente da mesma, com dinheiros públicos, andasse a entretê-los em vez de se concentrar nas suas funções mais básicas, como melhorar as vias pedonais onde se movimentam ?  Que cidade europeia admitiria um movimento político criado pelo presidente de uma associação, com direito de voto na aprovação do orçamento da autarquia, do qual é um dos beneficiados ? Limitei-me a perguntar, sabendo já a resposta: Afinal quem são os pacóvios?

 

A discussão sobre a corrupção na esfera pública está quase sempre inquinada, por uma  associação simplista da corrupção à apropriação de bens públicos para beneficio pessoal de individuos ou grupos de individuos. Aristóteles chamou à atenção que essa é uma forma muito redutora de encarar a corrupção (Diaphtora, em grego). A corrupção mais profunda está à vista de qualquer cidadão. Não é oculta, subterrânea, mas pública. O que predomina nas democracias é uma corrupção que afecta a organização política das nossas sociedades: a corrupção da natureza das instituições. A apropriação privada de bens comuns é, arriscamo-nos a dizê-lo, o menor dos males, pois em geral é facilmente reparável. 

A acção corruptora que se traduz em piores consequências é quando a missão, objectivos e prioridades no uso de recursos de instituições públicas são usados para finalidades distintas daquelas para as quais foram criadas. Esta acção corruptora, como Aristóteles refere, acaba por gerar outra instituição de natureza diversa. A anterior acaba e a nova é uma incógnita, fruto da acção de agentes corruptores. 

Uma Junta de Freguesia, por exemplo, que tome como finalidade dedicar-se à organização de eventos festivos, entra numa processo de corrupção que muda a sua natureza. Em vez de um orgão autárquico vocacionado para a resolução de problemas de proximidade, passamos a ter uma entidade que usando recursos públicos prossegue outra finalidade. O cidadão dir-se-á que foi ludibriado, esperava encontrar de uma instituição e aparece-lhe outra.

Aristóteles, como é sabido, ao estudar os vários regimes politicos, concluiu que nenhum estava a salvo de fenómenos de corrupção que modificavam a sua natureza. A monarquia, por exemplo, degenerava facilmente numa tirania, em que a promoção da Felicidade dos cidadãos estava ausente.  

No entanto, em abono da verdade, este processo de corrupção institucional é feito não apenas pererante os olhos dos cidadãos, mas com a sua participação. O que falha ? Aristóteles dirá que é a liberdade no agir e pensar, sem nunca perder de vista a Felicidade como bem supremo.   

Um Cidadão de Alvalade

Faz aquilo que a Junta de Freguesia devia fazer e não faz. Percorre a freguesia, identifica situações que urgem serem resolvidas para melhorar a qualidade de vida dos fregueses. Nada lhe escapa, desde lampadas fundidas na iluminação pública, passeios esburacados, sumidores atolhados, sinalização nas ruas a precisar de ser reposta,lixo amontado nas vias públicas, espaços verdes abandonados, porcaria de canideos em jardins, grafittes, situações insólitas fruto de uma administração local ineficiente, insegurança pública que inquieta moradores, etc. Não se limita a identificar estes e outros problemas que afectam o quotidiano dos moradores, contacta quem tem competência para os resolver. Pressiona os serviços da CML ou da Junta de Freguesia, reporta vários casos ao "site" Vizinhos de Alvalade" (Facebook) de que é administrador desde 2017, e que conta actualmente com mais de 13 mil aderentes (Agosto de 2023). É um cidadão empenhado na melhoria das condições de vida na sua comunidade.

Com um humor corrosivo, suporta as habituais criticas que é alvo. Uns acusam-nos de estar ao serviço do executivo anterior (PS), denegrindo o actual executivo da Junta (PSD-CDS-PP, com o apoio do Chega e Mudar Alvalade).Pouco lhe serve de dizer que antes de 2021, fazia as mesmas denuncias, provavelmente de forma mais sistemática. Outros afirmam que ao a fazer   está a denegrir a imagem do Bairro de Alvalade, devia ficar calado e quieto.

A verdade é que quando a imprensa pretende recolher opiniões sobre problemas que afectam a população na freguesia, ou confirmar situações ou factos que nela ocorreram é ao Gustavo Ambrósio que recorre e não a nenhum dos eleitos locais ou mesmo ao executivo da Junta.

Ao longo dos anos habituamo-nos a vê-lo em participar em diversas acções públicas, em particular as que procuram promover uma mobilidade sustentável.

Gustavo M. Ambrósio F. de Gouveia, nasceu em 1988 e é bioquímico de formação. Um enfant terrible no partido. Em 2003 filiou-se nas Juventudes Socialistas. Entre 2009 e 2013 foi eleito pelo PS para a Assembleia de Freguesia do Campo Grande. Em 2017 questionou judicionalmente eleições internas das JS. Nas directas apoia José Seguro contra Costa e nas presidenciais Ana Gomes. Em 2018 integra o Conselho Nacional do PS. Incapaz de estar sujeito aos espartilhos partidários, vêmo-lo a participar clandestinamente nas Jornadas de Verão das JSD (2018). A tentar fazer o mesmo no CDS-PP, mas foi barrado. Em 2023, participa nos Students For Liberty , uma organização ultra-liberal de exportação norte-americana. Participa com regularidade em debates sobre a Juventude e até em programas, como os do  canal Kuriakos (conteúdos cristãos). Bem Haja !

Carlos Moedas, o Sr. Unicórnio

 

O unicórnio, animal mitológico, foi associado desde a antiguidade clássica à pureza e à força. Nos nossos dias foi associado a negócios de lucros rápidos de milhões. Carlos Moedas durante a campanha eleitoral para as autárquicas de Setembro de 2021 prometeu criar em Lisboa uma fábrica de unicórnios. A miragem do dinheiro a rodos teve certamente algum efeito entre os que se deixam seduzir pela obtenção de dinheiro imediato e sem grande trabalho. Quase dois anos depois das eleições o desnorte é completo na direcção da CML. Para além da passes gratuitos para menores de 23 anos e maiores de 65, não se vislumbra nenhuma ideia para a cidade ou projecto consistente. A impreparação tornou-se gritante. Mais

Discursos 

Há um curioso pormenor neste anúncio, publicado a 26/03/2023, pela  Junta de Freguesia de Alvalade e que é revelador do que separa um informação rigorosa da propaganda, cujo objectivo é manipular dando uma falsa imagem da realidade. É sabido que o actual executivo da Junta está desligado dos espaços públicos, da sua manutenção e requalificação. As suas prioridades são aplicar o orçamento da freguesia em festas, festinhas, espectáculos e outros eventos esperando adquirir notoriedade pública. Para esta tarefa tem recrutado uma verdadeira corte de assessores e avençados. Feitos estes considerandos, o leitor já se pergunta pelo dito pormenor. É simples: se analisar todos os anúncios de festas, festinhas, espectáculos, estátuas, atribuição de medalhas e medalhinhas, almoços e jantares de homenagem a este e aquele, ao cão e ao gato, verá que nunca é dito o seu custo. Neste caso, lá aparece os 23.000 euros em destaque revelando o "enorme esforço financeiro" feito na requalificação de um bem comum. Abril de 2023  

Espaços Públicos numa Cidade Justa

"O caráter de uma cidade é definido por suas ruas e espaços públicos. Desde praças e avenidas até jardins do bairro e parques infantis, o espaço público molda a imagem da cidade. A matriz que conecta as ruas e os espaços públicos forma o esqueleto da cidade sobre o qual tudo mais repousa." (Docs. HABITAT III, Quito October 2016)

As Nações Unidas, desde o início do milénio tem vindo a dedicar uma crescente importância ao espaço público. Em 2007 proclamou que uma "cidade segura" era uma "cidade justa" onde as pessoas fossem o elemento central do seu desenho urbano, traduzida na prioridade que as políticas públicas conferem à qualidade deste espaço. A mesma preocupação está preseente em multiplos programas da União Europeia.     

A avaliação desta qualidade do espaço público na sua comunidade está ao alcance de qualquer cidadão observando a forma como os recursos públicos postos à disposição das câmaras e juntas de freguesia estão a ser aplicados na melhoria da qualidade e requalificação dos espaços publicos: higiene Urbana, passeios, iluminação pública, arborização, mobiliário urbano, sinalética, estações e paragens de transportes públicos, espaços de estacionamento, etc. Um outro nível de observação incide sobre a o desenho urbano, a requalificação dos espaços degradados, a expansão da rede ciclável e melhoria dos transportes públicos, sistemas de drenagem, infra-estrututuras de comunicações, espaços para associações, recreção e cultura dos cidadãos, arte pública, etc. Uma cidade que não tenha nas suas prioridades o espaço público, aquele que é partilhado por todos, não é segura nem justa.

As cidades onde os espaços públicos foram mal concebidos, privatizados, ou estão pouco cuidados tornam-se cidades segregadoras, polarizadas, onde aumentam as tensões sociais, e as possiblidades de desenvolvimento são limitadas. Se a higiene pública coloca em risco a saúde pública, ao potenciar a propagação de doenças infecto-contagiosas. A deficiente qualidade e obstáculos nas vias pedonais, afecta gravemente a circulação de pessoas mais vulneráveis, como idosos e pessoas com deficiências. A segurança não deixa de ser afectada pela qualidade do espaço público. Diversos relatórios intermacionais estimam que cerca de 15% dos crimes tenham uma componente derivada do desenho e da gestão do espaço público (Docs. HABITAT III, Quito October 2016).  

Um espaço público bem cuidado aumenta o seu potencial económico e a confiança nos investimentos que nela sejam feitos. Nos habitantes que os partilham aumenta os sentimentos segurança e de pertença,  reforçam os hábitos de convivência,  integração e mobilidade  social. O espaço público bem cuidado é fundamental para a sustentabilidade ambiental. Espaços verdes abertos podem minimizar as emissões de carbono ao absorver carbono da atmosfera. Muitos outros beneficios podem ser apontados .

Esta reflexão vem a propósito do que temos observado na freguesia de Alvalade onde os espaços públicos deixaram de ser uma prioridade, uma opção política assumida pelo actual executivo da Junta de Freguesia. Trata-se de uma postura que afecta globalmente toda a comunidade, e que é feita em nome do que já foi cunhado por "caciquismo cultural". Um autarca arroga-se ao direito de entreter os seus municipes ou fregueses com o seu programa cultural e recreativo. O autarca e a sua corte passam a viver numa bolha encantada, povoada de vedetas a contratar e jogos a realizar, enquanto isso acontece a comunidade vê a qualidade do espaço público e o quotidiano a degradar-se. Em Alvalade os sinais desta situação são cada vez mais evidentes.

Dois exemplos em Alvalade de requalificação de espaços públicos.

A requalificação em 2018 do lado oriental da Avenida do Brasil trouxe uma outra qualidade ao espaço envolvente dos blocos habitacionais e estimulou a abertura de novos serviços e a melhoria de outros.

A requalificação do jardim do Campo Grande em 2013 (lado Norte)e 2018 (lado sul) criou na freguesia uma nova centralidade e estimulou o crescimento e renovação das actividades económicas em toda a zona.Há um antes e um depois destas intervenções.

Seis meses já perdidos ?

A situação que se vive em Alvalade era previsível: um executivo constituído maioritariamente por pessoas sem nenhuma ligação à freguesia, nem sequer nela residem. Não a conhecem, nem mostram vontade de a conhecer. As questões são tratadas no gabinete e as únicas iniciativas são a compra de espectáculos. Em pouco tempo, importantes obras de requalificação de espaços públicos foram suspensas e outras abandonadas. 

Ao longo de seis meses acompanhamos a acção deste executivo e fomos registando alguns casos que nos pareceram significativos da sua atuação, e que ilustram o qua dissemos. 

O jardim do Bairro das Estacas, requalificado antes das eleições autárquicas de Setembro de 2021, ilustra bem o estado de abandono a que o actual executivo da junta de freguesia votou muitos espaços públicos. O sistema de rega não funciona, as plantas estão a desaparecer e o lixo abunda por tudo quanto é sítio. Foto: 29/04/2022

Alguns moradores do Bairro das Estacas garantiram-nos que parte da responsabilidade pelo estado de abandono do jardim, deve também ser atribuído também aos donos dos cães que por aqui abundam. Fica registado o reparo. Foto: 29/04/2022

As obras no "Jardim dos Moradores" continuam paradas e o entulho espalhado pela Rua (29/04/2022). 

Em  Janeiro de 2022, publicamos a seguinte comentário sobre uma visita de membros da Junta:

"Que faziam em amena cavaqueira, às 12h25 do dia 9/01/2022, Leonardo Rodrigues (BE) e dois vogais do actual executivo (Paulo Doce Moura e Tomás Gonçalves) acompanhados por um dos seus assessores (António Barrocas, na imagem ao centro) ? Face ao local da conversa não era dificil descobrir o motivo: o jardim dos Moradores, na Rua Eugénio de Castro Rodrigues, cujas obras de requalificação foram lançadas pelo anterior executivo e que entretanto ficaram paradas. A sua conclusão prevista era para Novembro de 2021. O assunto já foi abordado na Assembleia de Freguesia, sem que nenhuma razão tivesse sido apontada. Politiquices ou problemas com o empreiteiro ?".

Os vogais da Junte garantiram-nos na altura que as obras seriam em breve concluidas. Estamos em meados de Março de 2022 e pouco ou nada avançaram. Confirma-se, uma vez mais, a pouca apetência (e competência?) do actual executivo por intervenções nos espaços públicos. Nota: o assessor António Barrocas suspendeu os "trabalhos" na Junta. Nunca se percebeu o que andava por lá a fazer. Mais

Outra das suspensões do actual executivo da Junta foi o Programa Casa Aberta conforme a SIC (Poligrafo, 20/02/2022) apurou. Trata-se de um programa financiado pela CML e executado pela Juntas de Freguesia destinado a melhorar as condições de acessibilidade e segurança das habitações de pessoas idosas ou pessoas com deficiência. Um programa que no anterior excutivo (2017-2021) registou excelentes resultados. Consolidava-se a tendência do actual executivo de Direita para abandonar as intervenções nos espaços públicos, concentrando a sua ação na atribuição de subsídios e na promoção de eventos mediáticos, nomeadamente no Desporto, Cultura, Educação e Apoio a Idosos e Carênciados."

Do Céu para a Mesa  foi um dos projectos remetidos para o limbo. Não se coaduna com uma gestão de gabinete, exige próximo dos moradores, o que parece não estar no horizonte do executivo (29/04/2022).

Em Março  de 2022 escrevemos o seguinte:

"No Jardim Horticola Aquilino Ribeiro Machado está quase concluido mais um projecto comunitário em Alvalade - Do Céu para a Mesa ". Foi desta forma que em Outubro de 2021 nos referimos a este projecto. A verdade é que o novo executivo eleito em Setembro de 2021 continua a manter no limbo mais este projecto.

"Do Céu para a Mesa" assim se chama esta horta urbana vertical, no ambito do programa CML Bip-Zip. Partiu da iniciativa do Centro Paroquial do Campo Grande e contou com o apoio da Junta de Freguesia de Alvalade. Procura promover a auto-sustentabilidade alimentar, com especial enfoque nos bairros das Murtas, São João de Brito e Pote d`Água. A 15 de Março de 2022 voltamos ao local. Tendo em conta a inação revelada pelo actual executivo constatamos, sem espanto, que o projecto estava parado e a estufa apresentava sinais de degradação. Foto: 6/10/2021."  Mais

 

A requalificação da Vila Afifense estava para arrancar em meados de 2021, as eleições autárquicas meteram-se pelo meio e atrasaram o processo. A vitória da coligação de direita (PSD/CDS) acabou por ditar a suspensão do início das obras, não são agora consideradas prioritárias. Em Abril de 2022 o matagal que por ali proliferava dava revelava mais um projecto abandonado. Foto: 17/01/2022

Outras obras na freguesia que estavam agendadas entraram também no limbo, como a requalificação da Av. Almirante Gago Coutinho ou a ligação do Campo Grande às Calvanas

Não falta na freguesia sinais que está a ser quebrada a dinâmica que fora adquirida na requalificação dos espaços públicos na freguesia. Uma dinâmica que trouxe mais qualidade de vida aos seus habitantes e tornou a freguesia mais atrativa. Entre 2011 e 2021 Alvalade saiu da longa decadência em que estava mergulhada desde os anos setenta. Em 1971, recorde-se, tinha 54.315 habitantes, desceu para 50.459 habittantes em 1981, para em 2011 se fixar nos 31.110. Uma brutal diminuição de 23.205 habitantes, acompanhada do encerramento de importantes equipamentos públicos e privados, da degradação dos espaços públicos e do aumento da criminalidade. Fruto da dinâmica que foi criada, o número de habitantes subiu para os 33.236 em 2021, um aumento 4,5%.

Ética e Política

Na nossa análise sobre a gestão autárquica, nomeadamente no território da actual freguesia de Alvalade, não raro deparamo-nos com situações que, ainda que não sejam do foro criminal, são todavia eticamente reprováveis. A traficância de cargos ou o esbanjamento de recursos públicos no foguetório, leva-nos a questionar a relação entre a ética e política. Os princípios éticos são susceptíveis orientar a política? A ética e política são inconciliáveis ?

Embora as relações entre a ética e política tenham-se sempre  mostrado difíceis de conciliar, tal facto não impede que exista um largo consenso sobre alguns princípios éticos que se exigem a todos os políticos num regime democrático: 

Receptividade: o político tem o estrito dever de ouvir as sugestões e criticas dos que o elegeram e de promover a sua permanente consulta; 

Transparência: o político tem a obrigação de explicitar os objectivos da sua acção, as razões das suas opções e dar conta dos resultados alcançados, de modo a que aqueles que o elegeram possam analisar e avaliar o seu desempenho; 

Dignidade Pessoal: as pessoas implicadas na suas acções tem o direito a serem tratadas como seres humanos e não como simples meios;

Clarificação dos Interesses: o político deve distinguir com clareza os diferentes interesses: os seus, os partidários e os da comunidade que o elegeu e que representa, colocando estes últimos acima de todos os outros; 

Serviço público: a actividade política é uma actividade voluntária exercida por cidadãos que se dispõe a servir outros cidadãos como seus representantes. Neste sentido, é inadmissível e eticamente intolerável que alguns políticos que vão para a política para se servir a si mesmos e não a comunidade que os elegeu; 

Responsabilidade: O princípio da responsabilidade de um político comporta três dimensões essenciais:

 a) Assunção das responsabilidade perante os cidadãos que o elegeram, dando-lhe conta do que fez e não fez no exercício do cargo para o qual foi eleito;

 b) Assunção dos erros que lhe forem apontados directamente ou àqueles em que ele delegou competências por sua livre iniciativa; 

c) Tomar as decisões que se impõem que sejam tomadas, mesmo quando estas lhes forem desfavoráveis. 

É indispensável que os cidadãos/municipes/fregueses exijam o cumprimento destes princípios por parte dos seus representantes, sob pena de pela sua indiferença estarem a minar o próprio regime democrático. 

Duas ou Três Coisas Sobre as Legislativas

Não está no âmbito deste jornal debruçar-se sobre as eleições legislativas (30 Janeiro de 2022), a menos que possam ajudar-nos a compreender o que se passa na freguesia de Alvalade. Ora, os resultados das eleições autárquicas de 26 de Setembro de 2021 na freguesia de certa forma anteciparam os resultados das nacionais de 30 de Janeiro.

O PS nas eleições autárquicas de 2021 foi o partido mais votado. No entanto,como os partidos da direita (PSD e CDS) concorreram coligados acabaram por conquistar a presidência da Junta de Freguesia.

Os dois outros partidos de esquerda (CDU e BE) em relação às autárquicas de 2017, nas de 2021 mantiveram praticamente a mesma votação. O BE registou todavia uma ligeira quebra. A grande mudança ocorreu quando decidiram chumbar o Orçamento de Estado do governo do PS. Em Alvalade, como no país, o eleitorado não terá gostado e penalizou-os, neste caso em 1.099 votos, tendo os resultados das legislativas de 2019. Os votos destes partidos foram aparentemente transferidos para ao PS (mais 888) e o Livre (mais 281 votos).

O PSD nas legislativas de 2022 em Alvalade também subiu a sua votação, obtendo mais 621 votos. Foi muito pouco tendo em conta o potencial que fora criado. Não conseguiu segurar a totalidade dos 910 votos perdidos pelo CDS em relação às legislativas de 2019. Nem os 375 votos perdidos pela Aliança, fundada por Pedro Santana Lopes. Desperdiçou os 393 votos que perdeu o oscilante PAN. O PSD também não conseguiu agarrar o acréscimo de 1.121 votos que resultaram da diminuição da abstenção.

 Para que partidos foram transferidos a maioria destes votos?  A resposta é simples: IL (mais 1.764 votos) e CHEGA (mais 790 votos).

Desde as últimas eleições autárquicas que estes dois partidos passaram a controlar a Junta e a Assembleia de Freguesia de Alvalade. Os discursos políticos seus lideres nacionais têm explorado habilmente sentimentos de insegurança na população, o racismo contra os ciganos, a xenofobia contra os imigrantes, e o saque dos contribuintes pelo Estado para manter serviços públicos perdulários e uma classe política corrupta (IL). São discursos que em Alvalade têm alguma audiência em dois grupos da população: um grupo de idosos e de pessoas com baixa instrução para as quais as acusações não carecem de justificação; um grupo de pessoas com alguma qualificação, mas que atribuem ao Estado a responsabilidade por uma vida abaixo das suas expectivas. Pessoas que acreditam que a "privatização" é o remédio milagroso capaz de resolver todos os problemas estruturais do país. Não é de estranhar que o IL e o CHEGA tenham obtido mais de 2.554 votos em Alvalade nestas eleições legislativas. 

Nesta viragem à direita e extrema-direita da Freguesia de Alvalade há um facto que não pode ser ignorado: a propaganda feita na rua e nas redes sociais pelo "Movimento Mudar Alvalade" de apoio  à extrema-direita.

Nuno Lopes lider do movimento Mudar Alvalade foi a Belém saudar André Ventura aquando da apresentação do candidato do Chega à CML. Nas redes sociais atacou a comunicação social por não estar a dar destaque ao candidato deste partido.

Primeiros Sinais do Mandato 2022-2025

Alvalade viveu nos últimos meses de 2021 uma sucessão de trapalhadas. A coligação "Novos Tempos" que tem a presidência do actual executivo da Freguesia (2022-2025) empenhou-se, durante dois meses em derrubar a Mesa da Assembleia eleita no dia 20 de Outubro. No dia 2 de Dezembro a Mesa constituida por elementos da Oposição foi demitida, e no dia  21 de Dezembro eleita uma nova da mesma "cor" do Executivo.  Ninguém escondeu quais eram os objectivos que pretendiam atingir: esvaziar o possivel protagonismo da Assembleia, dando todo o poder ao presidente da Junta e voltar a transformar Alvalade no palco de uma visão recuperadora da "memória da outra senhora", entenda-se Ditadura. 

Os   sinais de uma efectiva mudança foram imediatos. O actual presidente da Junta tem-se recusado a responder às questões que lhe são colocadas por fregueses, vogais da oposição e até jornalistas. Na Assembleia, como temos registado, sucedem-se discursos que procuram explorar os sentimentos medo entre a população mais idosa. O discurso da insegurança, como se sabe, é politicamente rentável na freguesia de Alvalade. Em 2011, numa população de 31 mil habitantes, contava com 9.150 habitantes com 65 ou mais anos de idade, correspondendo a 28,76% da população. O indice de envelhecimento era de 239,3, significaticamente acima do valor de Lisboa (182,8). Outros discursos que já se instalaram na Assembleia procuram branquear a Ditadura, muitas vezes de forma subtil. Nada de novo neste aspecto. O discurso corrente, por exemplo, sobre a inegável modernidade do "Bairro de Alvalade" omite  os muitos milhares de pessoas que aqui viviam em condições infra-humanas.

Perante os novos tempos que se anunciam, a questão que se coloca não é da legitimidade dos eleitos, mas a da indiferença dos cidadãos perante a esfera pública. É aqui que tudo se assenta. Nos últimos quatro meses de 2021 não chegaram aos dedos de uma mão, o número de fregueses que intervieram directa ou indirectamente (enviando emails)  nas Assembleias de Freguesia ou nas reuniões do Executivo. Nada disto tem a ver com a educação da população. Alvalade na cidade de Lisboa tem a mais alta percentagem da população com cursos superiores. A questão é de cidadania. 

A relação dos portugueses com a democracia só tem paralelo com a da população dos paises do leste da Europa, como está bem patente num estudo internacional sobre "Os valores dos Portugueses" coordenado por Alice Ramos e Pedro C. Magalhães, e que foi publicado em 2021 pela Fundação Calouste Gulbenkian. Os resultados reflectem o que se passa em Alvalade:  Cerca de 75% da população aceita ser governada por especialistas (tecnocratas), prescindindo de eleições; 63% aceita ser governado por um lider forte que não tenha que se preocupar nem com o parlamento nem com as eleições. 34% aceitam mesmo uma ditadura militar. É fácil perceber que onde andaram e andam a "pescar" eleitores e a quem se dirigem alguns dos partidos e movimentos que agora tem assento na Assembleia de Freguesia.

Face a este panorama, uma imprensa local livre e independente tem uma importante missão a desempenhar: informar e pugnar por uma intervenção activa dos cidadãos na comunidade. A única via para uma sociedade livre e democrática.

Conflitos  no Horizonte 

 As eleições de 26 de Setembro provocaram uma mudança na gestão da freguesia de Alvalade. O PS perdeu a presidência da Junta e com o PCP também a maioria na Assembleia de Freguesia (AF). A gestão passou a ser confiada à coligação "Novos Tempos (PSD /CDS) que ganhou a presidência, mas ficou em minoria na AF. Acontece que os documentos fundamentais para a gestão da Junta tem que ser aprovados na AF. O novo executivo se quer que os mesmos sejam aprovados tem que negociar com o Chega, Iniciativa Liberal e o movimento Mudar Alvalade. O preço do voto mais elevado é o do  movimento Mudar Alvalade. Um voto que exige negociações com a CML sobre as piscinas em Alvalade e na Penha de França, assim como  o perdão da dívida que Os Estrelas tem para com a Junta de Freguesia. 

Não é o único problema. Acontece que o PS tem a mesa da AF, cujo presidente (José Ferreira) pretende dar à Assembleia uma outra visibilidade e dinamismo. Uma ideia interessante que, em princípio, poderá estimular a participação dos fregueses na vida da comunidade.. José Ferreira no dia 1/11/2021 solicitou ao Executivo recursos humanos e materiais para a AF , apontando para a realização de uma Assembleia pelo menos uma vez por mês, longe das quatro por ano no passado. Depreende-se da proposta do presidente da AF que pretende igualmente exercer uma ação fiscalizadora no quadro das estritas normas de transparência que foram provadas em 2019 na Junta. 

José Amaral Lopes (PSD), o actual presidente da Junta,  adivinhando um possivel conflito com a AF, apressou-se a pedir um parecer jurídico para saber até onde pode prescindir de prestar contas à AF. O objectivo é neutralizar a sua ação e possivel visibilidade pública. As Assembleias de Freguesia são em geral orgãos invisiveis e inativos, marcados por uma esporádica participação dos fregueses. O único elemento  autárquico que possui uma efectiva visibilidade pública é o Presidente da Junta. Em Alvalade o PS e outras forças políticas, em especial o  PCP e o BE não parecem estar pelos ajustes de se remeterem a um forçado silenciamento durante quatro anos. Não apenas pretendem exercer a sua função fiscalizadora, apresentarem propostas e recomendações,  mas no caso do PS também defender o seu legado de 8 anos à frente da Junta de Freguesia.

O Executivo liderado por José Amaral Lopes tem hesitado em submeter os documentos a que está obrigado à AF. Face a esta situação, a mesa da AF avançou para a convocação de uma Assembleia. Foi marcada para o dia 2 de Dezembro de 2021, um dia antes do prazo que o actual executivo tem para remeter para o Tribunal de Contas a documentação sobre a gerência da anterior Junta. O Executivo tem até ao dia 26 de Novembro de dizer que pontos pretende acrescentar à Ordem de Trabalhos.

 A desconfiança que o actual Executivo parece manifestar em relação à AF, onde está em minoria, tem levantado crescentes receios sobre o Plano e o Orçamento da Junta para 2022 que obrigatoriamente terão que ser aprovados na AF. Se é certo que os documentos provisionais podem ser apresentados para aprovação à AF até 31/12/2021, muita coisa está em jogo para o futuro da freguesia, e que exige um amplo debate. Sem um adequado orçamento muitas propostas poderão ficar pelo caminho.

Como  é sabido, as receitas próprias da Junta são diminutas. O orçamento da Junta provém na sua quase totalidade directamente do Estado e da CML. Em relação às verbas provenientes do Orçamento da CML tem particular relevância a capacidade de negociadores da Junta, nomeadamente em proporem projectos geridos através de delegação de competências, etc. Neste sentido, a ausência de um debate na AF empobrece os planos da própria Junta e a favorece a minguada participação dos fregueses.

Novembro de 2021 

Uma Deficiente Democracia

O recente conflito entre a Assembleia de freguesia de Alvalade e o Executivo da Junta trouxe de novo à baila as deficiências do sistema autárquico em Portugal.

Os cidadãos estão limitados na sua participação política, a Assembleia de Freguesia secularizada nas suas funções, os vogais sem pelouro reduzidos a meras figuras decorativas durante quatro anos, a Oposição cerceada nos seus mais elementares direitos. O que impera é um sistema anti-democrático presidencialismo contrário à Constituição do país.

A constituição de 1976, no capítulo das freguesias diz que os orgãos representativos da freguesia são a Assembleia de Freguesia e um orgão colegial perante ela responsável. As autarquias por estarem mais próximas da população deviam assentar numa ampla participação dos cidadãos residentes na Assembleia de freguesia e no orgão responsável pela execução das suas decisões (a Junta).Verdade é que nada disto ocorreu. A longa tradição centralista da Ditadura no país não foi alterada, quando as autarquias estavam totalmente dependentes do Estado e confiadas a presidentes da confiança do regime. O apregoado pluralismo após o 25 de Abril de 1974 não passou de um discurso retórico destituído de conteúdo. Ultrapassado um breve sobressalto inicial, em pouco tempo voltou a instalar-se o presidencialismo nas autarquias herdado da Ditadura.

Os únicos orgãos que possuem alguma visibilidade pública são os presidentes das Câmaras e das Juntas de Freguesia, figuras que nem constam da Constituição do país. Não raro assumem-se como proprietários das câmaras ou das juntas. Todo o poder está neles concentrado.

O sistema revela-se ainda mais aberrante quando se constata que o presidente da câmara municipal ou da junta de freguesia, uma vez eleito não pode ser demitido pela Assembleia. Pode mesmo perder a total confiança do grupo político que fazia parte, os vereadores ou vogais da sua equipa demitirem-se em bloco, mesmo assim a lei permite-lhe que continue firme no seu posto, e encontre um qualquer solução governativa entre os restantes eleitos. Pouco importa o expediente e a qualidade do executivo assim formado. 

Neste sistema, o principal orgão fiscalizador - a assembleia municipal ou de freguesia - está profundamente fragilizado. A Oposição ( os vereadores ou os vogais sem pelouros) são encarados frequentemente como “forças de bloqueio”, reduzidos a meras figuras decorativas. Os executivos recusam dar-lhes meios humanos e materiais para exercerem as suas funções, temendo que adquiram visibilidade perante os eleitores. O número de reuniões é limitado ao mínimo exigido pela lei de forma a evitar o confronto de ideias, a apresentação de propostas alternativas em relação às apresentadas pelo “Chefe”, lei-se presidente.

A Lei 24/98, de 26 de Maio, procurou corrigir esta deficiência ao consagrar um conjunto de direitos da Oposição: Informação, Consulta Prévia, Participação e direito a depor. Na prática ninguém pode usufruir destes direitos sem uma informação completa e atempada. Ora, como não são fixados prazos para o executivo a prestar, os vereadores sem pelouro ou vogais a informação que solicitarem, estão limitadíssimos no cumprimento das suas funções perante que os elegeu.

Perante tudo isto, os fregueses sentem que tudo está feito para os impedir de participarem nas decisões na comunidade onde vivem. Esta é uma das razões apontadas para a diminuta participação cívica dos portugueses no orgão público que lhes está mais próximo.

António da Cruz Serra

Em vinte anos de existência deste jornal é a primeira vez que fazemos o elogio a um reitor da Universidade de Lisboa: António da Cruz Serra. As relações entre a Universidade e a Freguesia nunca foram boas, ignoravam-se simplesmente. O resultado foi a degradação do espaço público da Cidade Universitária e zonas envolventes, um espaço partilhado por académicos e moradores.

António da Cruz Serra, reitor desde Julho de 2013 e cujo mandato agora termina, conduziu com êxito a fusão de duas universidades ( a "classica" e a "técnica"), projectando a nova universidade no plano internacional. No ranking de Xangai está nos primeiros 200  lugares do mundo e nos 50 0u 60 da União Europeia. Um em cada seis alunos são estrangeiros.

Estabeleceu uma estreita ligação com a CML (António Costa e Fernando Medina), incluindo a Junta de Alvalade (André Moz Caldas) para a requalificação da Alameda da Universidade ou a criação do Centro Académico (antigo Caleidoscópio). Empreendeu importantes obras como a requalificaçãodo Complexo Desportivo Universitário, expansão da Faculdade de Farmácia, da Faculdade de Direito (biblioteca) e da Faculdade de Letras, restauro de edificios como a Aula Magna, Reitoria, etc., para só referirmos as obras na freguesia.

Universidade de Lisboa voltou de novo a investir na construção de residências universitárias. Não o fazia desde 1974 ! A chamada Cantina II, na Avenida das Forças Armadas, cujas obras estão em fase de conclusão, foi transformada numa residência universitária. Ainda na Cidade Universitária, com o apoio da CML, serão construída duas outras residências de grandes dimensões que não deixarão de ter um forte impacto em toda a freguesia.A CML, após a requalificação de dois edificios que adquiriu à Segurança Social vai atribuir 350 camas aos Serviços de Ação Social da UL.

Estas obras, como a requalificação do Jardim do Campo Grande (2013 e 2018) deram à Cidade Universitária uma outra dignidade, após décadas de criminoso abandono. Obras que motivaram outras instituições de ensino e investigação existente na freguesia a seguirem o exemplo, como foi o caso da Biblioteca Nacional de Portugal.

Dada a importância que as universidades têm na freguesia, e em particular a Universidade de Lisboa,  qualquer alteração na sua gestão acaba por ter impacto na freguesia.  Abundaram infelizmente no passado reitores com uma deficiente sensibilidade para a gestão dos espaços públicos. O resultado foi a degradação de vastas zona na freguesia que afectou tanto os estudantes  como os moradores,  provocando os problemas que todos conhecemos. Fazemos votos que frutifique de vez o exemplo de António da Cruz Serra.

Mudanças

 

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

 Muda-se o ser, muda-se a confiança; 

Todo o mundo é composto de mudança, 

Tomando sempre novas qualidades"

Luis Vaz de Camões nestes versos do seu belissimo poema, inspirado em Heraclito, afirma de a mudança faz parte da vida, nada é estático ou garantido. O que foi laboriosamente conquistado num momento para o outro desaparece. Diz-nos que a mudança do Tempo (época, período) muda a própria realidade alterando a nossa percepção e a consciência que temos das coisas. Muitos dirão que estamos a  fazer uma interpreção existencialista do poema, segundo a qual a existência precede a essência, ou uma interpretação materialista para a qual as condições materiais determinam a própria consciência. Camões dá todavia ao Tempo aqui um dimensão ontológica, isto é, capaz de alterar o real ( o ser) e a própria realidade (o percepcionado).   

Seja como for, a questão o que nos interessa é saber qual o papel dos individuos na mudança do próprio Tempo. Limitam-se a ser o reflexo da sua mudança, movida  por  forças ocultas,  indeterminadas que nenhum ser humano controla ? Ou os seres hmannos são agentes da mudança  do próprio Tempo ? 

Em Alvalade, como em cidade de Lisboa, a coligação que conquistou a presidência da Junta de Freguesia e da CML assumiu-se como a porta-voz de "Novos Tempos". 

Da sua propaganda eleitoral depreendemos os seus membros afirmam-se possuidores da arte ou de um engenho capaz de mudar o Tempo, mudando o Ser (aquilo que é, o real ou a realidade ), mudarem a Confiança ( crença) , a Vontade ( o querer) e por suposto, a própria Consciência dos "fregueses" e dos "lisboetas".

Convenhamos  que são mudanças a mais. Trata-se como é evidente de um lema como tantos outros, que surgem em épocas de campanhas de eleitorais, sem conteúdo, um puro vazio.              

Sem entrar em outras reflexões, e esperamos apenas que a dita coligação concretize as suas mais limitadas mudanças propostas nos programas que foram sufragados para a assembleia de freguesia e para a Câmara Municipal de Lisboa.  Esperamos também que este profético anúncio de "Novos Tempos" não seja afinal o regresso a "Velhos Tempos".  

No capítulo das pequenas mudanças, não as ontológicas que fala Luis Vaz de Camões, esperamos que os novos executivos que irão tomar posse não repitam as trapalhadas e a manifesta incompetência que deram provas entre 2001 e 2013 os executivos das antigas Juntas de freguesia do Campo Grande, São João de Brito e Alvalade. E já agora na Câmara não entrem na balburdia que culminou nas eleições intercalares de 2007. Fazemos  votos por último, que os insondáveis "Novos Tempos", se reduzam a uma gestão da coisa pública, participada, atempada, transparente, sem demagogia , orientada para  a melhoria do Bem Comum.

Outubro de 2021 

O Silo

.  

 

No rol de compromissos assumidos por Carlos Moedas há um que particularmente tem excitado os seus apoiantes em Alvalade: a construção de um silo para automóveis. De acordo com a narrativa do novo presidente da CML, o principal problema que afecta o "comércio tradicional" local, não é uma população envelhecida, a concorrência das grandes superficies ou falta de dinamismo do dito comércio, mas a falta de estacionamento. Um  problema que ficará resolvido com a construção do silo. 

Trata-se de uma medida que será acompanhada de outras que entretanto foram sendo anunciadas, tais como:  extinção de algumas ciclovias, o fim de várias bolsas de estacionamento para bicicletas e outros veiculos de duas rodas, a limitação da ação inspectiva da EMEL, a redução em 50% no  estacionamento dos residentes em toda a cidade, etc. A prioridade é agora o estacionamento automóvel. 

Muitos dos seus apoiantes em Alvalade tem vindo a público defender que sejam retomados projectos do tempo de Santana Lopes e Carmona Rodrigues, como  a construção de um parque de estacionamento ao longo da Avenida da Igreja,  a transformação de espaços verdes em parques de estacionamento, inclusive o aproveitamento para o estacionamento de todos os logradouros e hortas urbanas. Alguns sonham até com a extinção da EMEL para puderem estacionar de novo nos passeios. É fácil perceber que a maioria dos defendem estas ideias nas redes sociais, a coberto do anónimato,  não residem em Alvalade. O seu objectivo é estacionarem onde quer que seja sem pagarem. Se estivessem dispostos a pagar, os  parques pagos na Freguesia estariam cheios, o que nunca aconteceu. Não faltam lugares nestes parques.

Os partidos que formam  a coligação "Novos Tempos", apesar de terem conquistado a presidência da Junta, ao defenderem esta ideias não deixaram de perder 810 votos e até um vogal,  em relação aos resultados obtidos em 2017. Para a CML conseguirem apenas mais 2.801 votos. Ainda não  assumiram o executivo da Junta e da Câmara e já se perspectiva uma tendência:  estamos perante não "Novos Tempos", mas o regresso de "Velhos "Novos Tempos". A Bem da Cidade e dos seus moradores esperemos que se tratem apenas de excitações eleitorais.

Setembro de 2021 

 

Arquivo por Presidências Camarárias Anteriores

 

2013- 2021

 
 

2013- 2017

 
 

Fernando Medina/António Costa

 
 

2007- 2013

 

António Costa

 

2007-2002

 
 

Carmona Rodrigues/Santana Lopes

 
 

2001

 
 

João Soares

 
   
 

Entrada

História local
Cultura
Quiosque
 

Estatuto Editorial

O Jornal da Praceta é projecto de informação online sobre a freguesia de Alvalade e a cidade de Lisboa em geral. Existe para servir os seus habitantes e ser útil na tomada de decisões pessoais e colectivas.

O Jornal da Praceta é independente dos poderes políticos, económicos ou religiosos.

O Jornal da Praceta não abdica de ter opinião, de tomar posição e de suscitar e promover o debate.

O Jornal da Praceta define as suas prioridades informativas exclusivamente por critérios de interesse público, de relevância e de utilidade da informação e rejeita qualquer tipo de censura ou limitação à liberdade de informar.

O Jornal da Praceta considera que uma sociedade informada, transparente e participativa é condição essencial para o desenvolvimento individual e colectivo, material e intelectual.

O Jornal da Praceta assume o compromisso de respeitar os princípios deontológicos e profissionais dos jornalistas, assim como a boa fé dos leitores.

 

Jornal da Praceta

Primeiro Jornal Electrónico de um Bairro de Lisboa

Ficha Técnica:

Proprietário e editor: CMPF

Morada: Rua José Lins do Rego, 3, 1º. Frente., 1700-262 Lisboa.

Director: Carlos Fontes

( CCPJ - nº. de título: TE671 )

(carlos.fontes@jornaldapraceta.pt)

Colaboradores: Manuel Pereira, Gaspar Santos, Penas, Mariana Fontes, Adelaide Miranda, Jorge Fonseca.

Periocidade: Quinzenal

Registo na Entidade Reguladora para a Comunicação Social: 126980

Sede da Redação: Rua José Lins do Rego, 3, 1º. Frente, 1700-262 Lisboa.

Contacto: jornalpraceta@sapo.pt

2006

Nas páginas de alguns jornais, com destaque para o Público são cada vez mais frequentes os desenvolvimentos de notícias publicadas no Jornal da Praceta. Facto que atesta a nossa crescente projecção local e regional, reforçando o nosso papel como mediadores entre os moradores e a imprensa diária. Entrevista

2005

 Comunicação Social

Jornal da Praceta foi considerado um caso exemplar de intervenção cívica na cidade de Lisboa (Reportagem ) .

2004

Universidade Nova de Lisboa. FCSH.  Instituto de História da Arte

VIII Curso Livre de História da Arte  

Lisboa Espaço e História

.

Lisboa Virtual. Conferência de Carlos Fontes, director do Jornal da Praceta - 2 de Junho de 2004 (Comunicação )

.

Escola Secundária Rainha Dona Leonor

Dia 11 Março 2004 - 14.30

Jornais Electrónicos de Bairro, conferência proferida por Carlos Fontes (director do Jornal da Praceta

.

2003

O jornal  Público distingue o Jornal da Praceta na  imprensa electrónica, afirmando que se trata de um jornal  "bem informado" não apenas do que se passa no bairro, mas também na cidade e nos meandros da própria CML. Com meses de antecedência publica factos que depois serão manchete em semanários, como O Independente. (Cf.Público,31/8/2003)

 
Percursos: Alvalade lés a lés