Da Censura à Explosão da Imprensa 

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O 25 de Abril e o fim da Censura em Portugal

A Censura fez parte integrante da nossa História - raros foram os períodos em que ela não imperou, constituindo uma arma de defesa da Igreja e do Estado na luta contra as subversões doutrinárias ou políticas.

Nos 48 anos do Estado Novo, esteve sempre activíssima em todas as vertentes culturais: literatura, teatro, cinema, música... Na imprensa periódica, onde ficou conhecida por "lápis azul" suprimia, alterava, adiava a saída de notícias com evidente prejuízo para jornais e revistas.

Se fosse possível  esquecer que a acção censória era uma acção de castração à mentalidade do povo português, a leitura do "cortes" seria, por vezes, momento de autêntico gozo. Por exemplo:

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"Foi proibida uma peça de teatro, adaptação de Correia Alves, do Arco de Sant`Ana, no TEP (Teatro Experimental do Porto). Não dizer que foi proibido. Pode, no entanto, dizer-se que já não vai à cena" (1 ); " Aumento do corte do cabelo". Cortar; "Comunicado da Junta de Energia Nuclear - Cortar os "fusíveis radioactivos"; Na posse do 2º. comandante da PSP de Lisboa - disse-se que ele já fez três comissões de serviço no Ultramar, a primeira "logo na eclosão da guerra". Ora, não há guerra. Não se pode dizer isso. Deve ser confusão do repórter...".  (a amarelo as indicações do censor da polícia política ). 

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Graças ao 25 de Abril a Censura terminou em Portugal e a nossa Constituição nos Artigos 37º. e 38º., diz : " Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de se informar, sem impedimentos nem discriminações"; "É garantida a liberdade de imprensa". 

Manuela Simões (2004)

 

 

(1) O Arco de Sant`Ana foi começado a escrever por Almeida Garret, em 1832, durante o cerco do Porto, mas só foi editado treze anos depois. O romance conta o rapto de Aninhas (moradora no Arco de Sant`Ana) perpetrado pelo devasso bispo e o castigo que sofreu: açoitado pelo próprio rei, D.Pedro I.

Obras consultadas: Príncipe, César- Os Segredos da Censura. 3ª. Edição, Lisboa. Editorial Caminho.1979.

Rodrigues, Graça Almeida - Breve História da Censura Literária em Portugal. Lisboa. Instituto de Cultura e Língua Portuguesa. 1980.

O Lápis Azul

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Memória dos anos 60, in Diário de Notícias, 21/9/1997

"Este jornal não foi visado por qualquer comissão de censura".

Jornal República, 25 de Abril de 1975 .Quinta-Feira. 1974. Ano 62 (2ª. Série). nº.15.421.

Director: Raul Rêgo. 

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Explosão da Imprensa

Abril de 1974. Foto de Alfredo Cunha. 

 

Após o derrube da ditadura assistiu-se não apenas ao aumento das tiragens e das vendas dos jornais, mas também ao aparecimento de novos títulos e ao encerramento de outros.

 

A partir de 25 de Novembro de 1975 as tiragens e as vendas começam a registar uma drástica redução. A população foi sendo lentamente afastada da participação política, impondo-se um sistema partidário fechado.

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Os jornais que surgiram (até 1980):

Jornal Novo (17 de Abril de 1975), diário, dirigido por Artur Portela

A Luta (25 de Agosto de 1975), diário, dirigido por Raul Rêgo

O Dia (11 de Novembro de 1975), diário, dirigido Vitorino Nemésio

O Diário (1 de Janeiro de 1976), diário.

Portugal Hoje 

Correio da Manhã (19 de Março de 1979), diário.

Sempre Fixe, semanário (1974, 2ª. série) 

O SOL (9 de Março de 1975), semanário

A Gazeta da Semana (1 de Abril de 1975)

A Rua ( 9 de Abril de 1975), semanário

O Jornal (2 de Maio de 1975), semanário, dirigido por Joaquim Letria

O Tempo (29 de Maio de 1975) semanário, dirigido por Nuno Rocha.

Página Um (5 de Junho de 1975), semanário

A Tribuna (28 de Julho de 1975), semanário 

O País (9 de Janeiro de 1976), semanário 

O Diabo (10 de Fevereiro de 1976), semanário

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Os Jornais que desapareceram (até 1980):

Época, propriedade da Acção Nacional Popular, jornal da ditadura.

Novidades, jornal ligado à Igreja Católica, comprometido com a ditadura.

O Século, diário