No início do II milénio a Câmara Municipal de Lisboa estava mergullha num caos. O desvario era total: compadrios, corrupção e uma sucesão interminável de escandalos que pareciam não ter fim. Em muitos meios de comunicação social o negro período da ditadura (1926-1974) era abertamente branqueado, sob o pretexto de que "no tempo de Salazar" nenhuma das situações noticiadas aconteciam.
Em 2004, o Jornal da Praceta resolve recordar alguns factos desse tempo, mas sobretudo do que representou para os portugueses e o país o fim da ditadura.
Largo
do Carmo. 25 de Abril de 1974 (foto de C.Gil). A população de Lisboa saiu à rua, participando activamente
com os militares no derrube da ditadura.
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Lisboa.
25 de Abril de 1974. Milhares
de pessoas nas ruas, acompanhavam os militares nas suas diversas operações
incentivando-os e aplaudindo-os com visível alegria.

Largo
do Carmo. 25 de Abril de 1974. Militares foram um cordão para permitirem a
circulação das viaturas militares. Pouco depois sairá numa delas o último
ditador de Portugal - Marcelo Caetano -, que se encontrava refugiado num quartel
neste largo de Lisboa.
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Lisboa.
25 de Abril de 1974.Foto: João Antunes. A participação do povo no derrube da ditadura, acabou por transformar um golpe militar numa revolução.
.O Povo
Saiu à Rua No dia 25 de Abril de 1974
as ruas Lisboa e depois as de todo o país foram tomadas pela população. Durante
os quatro ou cinco anos seguintes as ruas foram os locais privilegiados para a manifestação das diferentes
posições políticas, mas também importantes espaços de convívio e criatividade.

Capa
da revista O Século Ilustrado, de 4 de Abril de 1974
As comemorações do 1º. de Maio de 1974
constituíram um marco na cidade de Lisboa. O povo saiu à rua para manifestar a
sua firme determinação em defender a Democracia. Imagens esta percorreram mundo.
A mudança de regime político em Portugal marcou também o inicio da derrocada
de muitas ditaduras em todo o mundo: Grécia (1974), Espanha (1975), Peru (1980), Argentina (1982),
Uruguai (1983), Brasil (1984), Filipinas (1986), Coreia do Sul (1987), etc.
A revolta, a partir dos anos 80, em muitos
países controlado pela ex-União Soviética, acabou por conduzir ao seu colapso
e ao fim de muitos outros regimes totalitários por todo o mundo. Em 1990 foi a
vez de cair do regime ditatorial e racista da África do Sul.

Lisboa.
1 de Maio de 1974
.
A alegria pelo fim da ditadura espelhava-se no rosto
dos milhões de portugueses que saíram às ruas para festejaram o fim da
ditadura.

Cartazes
para todos os gostos. Desenho de Manuel Vieira. Jornal A Mosca. 22 Junho de 1974. As contínuas manifestações nas ruas eram um
dos alvos preferidos dos humoristas.

Manifestação
a favor da Independência das colónias e o regresso dos soldados. Foto de
C.Gil.15/7/1974. Algumas
manifestações provocaram verdadeiros tumultos na cidade de Lisboa. Umas vezes
era pelo número dos seus manifestantes, outras pelas razões que originavam os
protestos. No
dia 14 de Julho de 1974, a repressão policial de uma manifestação que exigia
o regresso dos soldados das colónias originou um morto e vários feridos. Não
se tratou de um caso único.
Lisboa.1974
A alegria estava estampada nos rosto de todos
os portugueses. O presente era incerto, as condições de vida miseráveis
para a maioria da população, mas todos acreditavam que o futuro seria
muitíssimo melhor num país onde o medo deixara de existir. As ruas de Lisboa
transbordavam esta energia contagiante.

Largo
do Carmo. 25 de Abril de 1974. Militares foram um cordão para permitirem a
circulação das viaturas militares. Pouco depois sairá numa delas o último
ditador de Portugal - Marcelo Caetano -, que se encontrava refugiado num quartel
neste largo de Lisboa.
Lisboa.
25 de Abril de 1974.Foto: João Antunes. A participação do povo no derrube da ditadura, acabou por transformar um golpe militar numa revolução.
25
de Abril de 1974
"
Desde o Arco (da Rua Augusta) ao Quartel do Carmo as mloulheres de Lisboa tomaram
a seu cargo o abastecimento dos soldados em acção. Foram o povo e os soldados
os heróis dos dias da libertação". Portugal Livre, Editorial
O Sécu. Lisboa, 1974
Capa
da revista Flama.29 de Agosto de 1975
.
Um ano depois do 25 de Abril, a rua
era agora palco de continuas manifestações a favor ou contra os vários
modelos de organização política que estavam em confronto na sociedade
portuguesa.

Manifestação anarquista. Lisboa, Praça
da Figueira.1975. As
ruas tornaram-se em Lisboa rapidamente num forum de análise e discussão
política.

A coisa pública despertava acesas discussões
nas ruas, originando frequentes manifestações pró ou contra as teses em
confronto. Todos sentiam a obrigação cívica de intervir nas decisões sobre o
rumo do país. |