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Londres 1973:  a derrocada da Ditadura

O ditador Marcelo Caetano, de 15 a 18 de Julho de 1973, deslocou-se a Londres em visita oficial para comemorar o 6ª. Centenário do Tratado de Tagilde, a base da célebre Aliança Luso-Britânica. Era um momento crucial para o regime cada vez mais isolado nas grandes organizações mundiais. As guerras em África ameaçavam eternizar-se. No treze anos da guerra o número de refractários e desertores terá ultrapssado os 240 mil. A contestação interna estava num crescendo, multiplivam-se as greves de trabalhadores, a constestação nas universidades e também nas escolas secundárias. Os fornecedores de equipamentos militares, como os EUA, Grâ-Bretanha ou a França, apelavam a negociações com os movimentos de libertação.

 

Á chegada Londres o ditador foi recebido por uma onda de contestação, tornando-se numa figura incómoda para o governo britânico, pelo apoio que prestava à ditadura em Portugal. Os acontecimentos em Londres foram amplamente difundidos na imprensa mundial.

A questão do colonialismo e o racismo estavam na ordem do dia. No dia 8 de Julho, em Londres, milhares de pessoas manifestaram-se contra o colonialismo e o “apartheid” na África do Sul. Mário Soares, líder do recém formado Partido Socialista Português, foi um dos que participou nesta manifestação.

No dia 10 de Julho, o padre Adrian Hastings, no The London Times, denunciou os massacres das forças militares portuguesas em Wiriyamu, na provincia do Tete, Moçambique (16/12/1972). Pelo menos 385 pessoas foram assassinadas pela 6ª. Companhia dos Comandos de Moçambique. A repercussão na opinião pública britânica foi enorme, mobilizando muitas organizações no apoio aos movimentos de libertação nas colónias portuguesas, mas também contra a ditadura em Portugal.

No dia 15 de Julho, junto à Embaixada de Portugal em Belgrave Square, cercada por um forte contigente policial, milhares de pessoas manifestaram-se contra a ditadura em Portugal e em apoio à independência de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e outras colónias. Entre as numerosas organizações presentes, contavam-se as de emigrantes portugueses, o PS e os movimentos de libertação (MPLA, FRELIMO, PAIGC).

Por todo o lado onde o ditador andou, foram organizadas manifestações de protesto, como no Palácio de Buckingham, Museu Britânico (paragem simbólica de trabalhadores) ou no Royal Naval College em Greenwich (estivadores filiados no TGWU despejaram lixo na limousine do ditador).

O Partido Trabalhista britânico, liderado por Harold Wilson, participou activamente nesta contestação à ditadura, afastando-se da ambigua posição que anteriormente assumira. No Parlamento, no dia 17 de Julho, colocou a questão de explusar Portugal da Nato, apelou à constituição de uma comissão de inquérito sobre o massacre de Wiriyamu. Recebeu uma delegação do PS, chefiada por Mário Soares. Na imprensa internacional, Mário Soares é apresentado como o principal opositor ao ditador Marcelo Caetano. O Partido Conservador britânico, liderado por Eduard Heath, percebe que não é possivel manter uma posição ambigua perante a ditadura.

Procurando contrariar a imagem de um regime ditatorial, no seu regresso a Portugal, foi organizada uma manifestação de apoio ao ditador junto à Assembleia Nacional (22/7/1973). O seu discurso refere os acontecimentos em Londres, e afirma que a guerra iria prosseguir na defesa do "Ultramar". Oito meses depois, a ditadura era derrubada por um golpe militar.

"Caetano Assassino"

Claude Moreira, um jovem anarquista exilado em Londres, publicou em Setembro de 1973, um filme com este título, a preto e branco, com a duração de 12 minutos, sobre a manifestação do dia 15 de Julho. As cópias deste filme podiam ser adquiridas, no seguinte endereço: Cinema Livre, 140 Canden High Street, Plat, London.

Ver: https://www.youtube.com/watch?v=p9UQ8wJE6J8