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Vamos Remar na Associação Naval de Lisboa

 

A pandemia deixou marcas. Retomar a prática do remo foi dificil. Para minorar esta situação nada melhor que recomeçar por uma "classe de lazer". Assim fiz, a 15 de Setembro de 2022, na Associação Naval de Lisboa. Lazer, ócio, em antigas historietas dizia-se que tinham originado a filosofia. Era a minha praia.

A associação entre remo, lazer e reflexão não é historicamente disparatada. A popularidade que o remo adquiriu no século XIX, está ligada uma famosa regatada universitária: Em 1828 o Boat Club da Universidade de Cambridge desafiou da remadores da Universidade de Oxford para uma regata competitiva no Tamisa, em barcos de oito remos, por alturas da Páscoa. O sucesso da competição foi enorme, a Boat Race, passou depois de 1856 a ser disputada todos os anos, com a excepção do período da IIª. Guerra Mundial.

José Lopes Marques ( O Remo, 1974), afirmou que o remo na Grã-Bretanha se tornou num desporto para aristocratas, e com alguma razão o fez. Desde meados do século XIX que os operários estavam proibidos de participar em competições desportivas. A interdição foi sendo eliminada em todas as modalidades, menos no remo. Um desportista norte-americano, John Kelley, devido à sua condição de operário, foi proibido de participar nas competições de Henley. Em 1920 sagrou-se campeão olímpico, e um dos seus filhos venceu as regatas Henley. A sua filha Grace Kelly tornou-se princesa do Mónaco. Há histórias incriveis. Quando a proibição terminou e os operários puderam competir nas mais célebres regatas, os aristocratas tiveram que procurar outra modalidade que lhes garantisse a almejada "distinção" entre as classes.

A formação em 1893 da Associação Naval 1º. de Maio na Figueira da Foz foi inovadora neste domínio ao promover o acesso das "classes populares" à prática do remo. Era um clube de artesãos e operários (62% dos sócios entre 1893 e 1910). Entre os seus 28 fundadores estão sapateiros, pintores, alfaiates ou carpinteiros. O banheiro João da Encarnação Pestana foi o seu primeiro presidente. A escolha do nome foi de grande simbolismo. Está ligado à luta dos trabalhadores norte-americanos pelas oito horas de trabalho. A partir de 1890, como é sabido, passou-se a comemorar o 1º. de Maio como dia do trabalhador. Em 1893, após um longo inquérito, o governador do Estado de Illinois reconheceu a inocência dos quatro trabalhadores que foram enforcados a 11 de Novembro de 1887, devido a esta luta. Por todo país multiplicavam-se manifestações e publicações sobre o 1º. de Maio. As preocupações sociais do clube, voltaram afirmar-se em 1911, com a Taça Alzira para homenagear Manuel Fernandes Tomás, o mentor da revolução liberal de 1820, e depois com a Taça da Vitória em 1919 para assinalar o fim da Grande Guerra. Na década de trinta o clube conheceu a sua primeira época dourada no remo.

Em Portugal, a vela e o remo como desporto é inseparável da comunidade inglesa. As regatas deste o século XVIII eram muito populares neste país, tendo sido constituidos vários clubes. Entre nós há registos de regatas à vela no Tejo desde a primeira metade do século XIX. O grande impulso para a prática de desportos nauticos ocorreu quando a familia real e a burguesia lisboeta adoptaram a linha de Cascais, como um de ponto de encontro durante a época estival. As regatas à vela tornaram-se no principal divertimento e afirmação social dos proprietários das embarcações. Em 1849 Abel Power Dagg organizou uma regata de veleiros. Um ano depois cinco veleiros ingleses fizeram outra regata no Tejo. O sucesso foi enorme. O Conde de Alcaçovas, em 1852, organizou em Paço de Arcos o 1º. festival nautico, com regatas de barcos à vela, repetindo-se com alguma regularidade nos anos seguintes. No evento de 1853, foi estabelecido um "Regulamento das Regatas do Tejo", o primeiro do género em Portugal. O Infante D. Luis, grande entusiasta dos desportos nauticos marcou presença neste evento, o que contribuiu para o seu prestígio.

Caetano Henriques Pereira de Faria Saldanha Vasconcelos Lencastre, Conde de Alcaçovas foi o grande impulsionador da criação em 1856 da Real Associação Naval. No seu palacete em Paço de Arcos, frente aos Socorros a Naufragos, em dia de regatas era onde se reunia a familia real.

O Conde de Alcaçovas, Hermann Frederico de Moser e Frederico Guilherme Burnay, entre 1854 e 1855, melhoraram consideralmente a organização das regata à vela (iates). Foi neste contexto que, em 1856, foi solicitado a D. Pedro V que fosse concedido aos "yats" em Portugal as mesmas regalias que tinham noutros reinos. O que foi prontamente concedido, tendo-se constituido neste ano a Real Associação Naval (RAN), no Arsenal da Marinha, contando entre os seus sócios aristocratas e membros das colónias alemã e inglesa.

A RAN tinha como principais objectivos a construção de barcos de recreio à vela, aperfeiçoar a sua manobra e organização de regatas. O infante D. Luis, aceitou ser o comodoro da associação e assumiu a presidência da assembleia geral. A RAN passou a organizar regatas anuais, nomeadamente as de Cascais sempre muito concorridas. Em 1863 foi construído o edificio em Paço de Arcos da RAN (actual ANL).

A participação de remadores nestas regatas estava destinada sobretudo as chamadas "classes populares". Na verdade não faltavam no Tejo, como em todo o país excelentes remadores. Os programas das regatas à vela, desde pelo menos 1856, contemplavam provas para "remadores curiosos" e "remadores de ofício" que ajudavam a abrilhantar as regatas à vela. Os barcos a remos envolvidos nestas regatas eram muito diversos. Na regata de 1856, a primeira organizada pela RAN, os "curiosos" tinham um prova especial: "guigas de 4 remos". Nas outras provas haviam guigas de 6 e 4 remos e catraios de 4 remos. Na Regata na Trafaria em Outubro de 1890 pouco mudara. Os curiosos disputavam as provas com escaleres, botes catraios de 4 remos, guigas de 4 e 6 remos. As senhoras "curiosas" tripulavam escaleres de 4 remos. Os barcos de "Gente da Arte" (pescadores e marinheiros) remavam em botes catraios, chatas e celhes. Há registos de regatas exclusivamente de barcos de pescadores. Uma categoria à parte era a da tripulação das duas guigas da familia real, a do rei (Ofélia) e a da rainha (vega), no final do século XIX. Participavam nas regatas de Cascais, mas os remadores eram recrutados nos clubes de Lisboa e no Clube de Aspirantes da Marinha.

A progressiva introdução de barcos desportivos nestas regatas contribuiram atrair espectadores a estas corridas, como foi o caso do aparecimento em 1878 dos primeiros outriggers de 4 remos, construidos em Inglaterra para o Clube Rameiros Lusitano. Causaram enorme admiração a velocidade que podiam atingir.

 

ANL- Secção de Remo

A introdução do "remo organizado" na ANL foi pela primeira vez discutida, a 22 de Abril de 1882, numa Assembleia Geral da Associação. Houve uma clara resistência à introdução do remo na ANL, pois significava a admissão um novo tipo de sócios com preocupações atléticas. A criação do CNL em 1891, motivou a fundação em 1893 de uma secção de remo na ANL. As quotas eram menores para os sócios remadores, o que gerou criticas dos sócios da vela (iates).

A prática da vela de recreio continuava reduzida a um grupo muito restrito, disso seu deu conta José Perestrello de Vasconcellos:

" O acesso ao sport nautico é do domínio quase exclusivo dos donos dos barcos de recreio ou d`aqueles das suas mais intimas relações. Do grande público, aqueles que uma natural e sã disposição impulsiona para o mar raramente podem ao menos experimentar sua aptidão, seu zelo ou seu gosto por falta de embarcações e de mentores.

"A incorporação de sócios n`uma associação naval é certamente um voluntariado, mas à entrada segue-se quase sempre uma desilusão. Quando um sócio se agremia encontra tudo menos um barco para se exercitar, instruindo-se. A amabilidade de um amigo permite-lhe a entrada n`um barco e então as mais das vezes passeia, não trabalha", Congresso Nacional Maritimo, 1902.

O crescimento do remo na ANL foi rápido, assim como as rivalidades com o CNL. Na regata do Centenário de Santo António (1895), o CNL concorria com a Ophelia emprestada por D. Carlos, e a ANL com Vega da rainha D. Maria Pia, ganhou o primeiro. O momento discórdia foi a regata internacional comemorativa da chegada de Vasco da Gama à India (1898), em que os dois clubes ficaram empatados. O que acontecia em Portugal, inspirava portugueses pelo mundo fora. No Rio de Janeiro, formaram um clube de remo que hoje é conhecido pelo seu futebol: o Vasco da Gama !

A revalidade entre os dois clubes aumentou quando, em 1904, foi organizada disputa da Taça Lisboa, cuja primeira edição foi ganha pela Associação Naval de Lisboa com uma tripulação que contava com três remadores que sairam do Clube Naval de Lisboa. Voltou a conquistar a Taça em 1908, 1910, 1913, 1915 e 1931, seguiu-se um longo período de jejum.

Associação Naval de Lisboa. O mais antigo clube desportivo de Portugal

Iª. República (1910-1926)

(Democracia )

Neste período ocorreu um forte expansão do remo, ao contrário do que aconteceu com a vela, muito associada à familia real. A República procurou promover o remo como um desporto popular, instituindo em 1911 vários troféus. Neste ano são organizados os campeonatos regionais de Lisboa, Figueira da Foz e Viana do Castelo. A Taça 5 de Outubro, instituida pela CML, para o Campeonato Regional de Velocidade foi ganha pelo CNL em 1911 e o ANL em 1912, 1913 e 1914. O então presidente da Republica, Manuel de Arriaga, em 1912, ofereceu uma taça à ANL para ser disputada em barcos de remos. CNL, muito abalado com o fim da monarquia, em 1911 voltou a organizar o seu passeio e regatas na Valada da Azambuja, o convívio na Quinta do Alfeite. A educação física era uma alegada prioridade da Republica,. Havia que aprimorar a raça, numa altura que todos esperavam uma grande guerra na Europa.

O CNL e a ANL, colocaram de parte certas rivalidades, e uniram-se para promover as regatas escolares no ano lectivo de 1913/14, muito disputadas até aos anos sessenta. Em Coimbra foi organizada a primeira regata universitária em Portugal (1914), na qual participaram as faculdades de Direito e de Ciências (vencediora), presidida pelo reitor. Armando Soares Franco (presidente da ANL), ofereceu uma taça com o seu nome para ser disputada pelas escolas superiores de Lisboa, e Mauperrim Santos (presidente da Soc. Port. de Educação Física), uma taça também com o seu nome, para ser disputada pelos liceus de Lisboa.

Durante a Grande Guerra, em 1916, o ministro da Guerra solicitou à ANL e CNL, que os seus sócios participassem na vigilância do porto de Lisboa, o que veio a acontecer. A Marinha entre 15 de Junho e 30 de Setembro, organizava a regata de sargentos e praças da marinha de guerra, na qual se disputavam três taças. Era um forte incentivo à prática do remo entre marinheiros e visava efeitos promocionais da própria marinha.

A ANL e o CNL, neste período vêm a sua hegemonia a ser batida por clubes da Figueira da Foz, Porto, Setubal e Almada. O CNL ganha a Taça Lisboa em 1909 e o ANL em 1913. O CNL volta a ganhar em 1914 e a ANL em 1915, 1916, 1918 e 1921. A equipa do CNL, treinado por Leopoldo Lehrfeld realiza entre 1924 e 1926, a sua última grande proeza ao conquistar a taça três vezes seguidas.

A Associação Naval 1ª. de Maio da Figueira ganha em 1911 a Taça Lisboa. O Ginásio Clube Figueirense conquista-a em 1928 e 1929, e confirmando o seu poderio, em 1933, vence o campeonato nacional de out-riggers.

O Sport Club do Porto vence a taça em 1920, então integrada nos campeonatos nacionais. Era a primeira vez que um clube do norte conseguia esta façanha. Voltou a conquistá-la em 1922 e 1923. O Clube Fluvial Portuense entra para a lista de vencedores em 1930. O tempo era de mudança.

Em Setúbal e Almada o remo afirmou-se. O Clube Naval Setubalense (fundado em 1920) venceu a Taça Lisboa em 1927. O Ginásio Clube do Sul Cacilhas (fundado em 1920) conquistou a Taça Manuel de Arriaga, disputada durante quatro anos, assim como o campeonato nacional de out-riggers de 8, na Figueira da Foz (1927).

O Ginásio Clube do Sul mandou construir um Inrigger no esteleiro de Augusto Salgado no Ginjal. A prova de água ocorreu no dia 14 de Março de 1926. Foto: Museu da Marinha

A organização de eventos internacionais, apesar dos parcos meios disponiveis, não foi descurada. Em 1919 é constituida a primeira selecção nacional para a participação nos jogos inter-aliados. Na Figueira da Foz foi disputada pela primeira vez a Taça da Vitória, um acontecimento internacional que voltou a repetir-se anualmente de 1920 até 1922, quando a disputa foi interrompida.

O movimento federativo dos desportos, neste período, adquiriu um grande dinamismo, registando-se grandes progressos na regulamentação das competições e na participação de atletas em eventos internacionais. A Federação Portuguesa de Sports, realizava em Julho de 1919 o seu primeiro congresso. Foi nesta dinâmica que em 1920 foi criada a Federação Portuguesa de Remo, tendo aderido à FISA em 1922. Surgem importantes clubes e secções remo, como o Caminhense, Os Galitos ou os Ferroviários.

O contexto político no país era de enorme agitação. Os governos sucediam-se, assim como as tentativas de golpes de estado para implantar uma ditadura. Em 1925, no congresso da FISA em Praga, Portugal foi convidado e aceitou organizar em 1926, na Figueira da Foz, os Campeonatos Europeus de Remo. O então ministro das finanças, concedeu em Abril de 1926 cerca de 350 contos para a sua realização. No parlamento e no senado, assim como na praça pública, não tardou a levantar-se um coro de protestos contra semelhantes gastos. O deputado Rafael Ribeiro, afirmava que o país estava a saque, referindo o dinheiro gasto nos jogos olimpicos e num jogo de futebol em Madrid. A Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra exigiu também a proibição do empréstimo, o que veio a acontecer. O golpe de Estado a 28 de Maio de 1926 que implantou a ditadura militar colocou um ponto final na questão. O campeonato acabou por ser organizado à pressa em Lucerna. A FISA atribuiu a responsabilidade do sucedido a manobras de bastidores do senador José Pontes (1879-1961), presidente do comité olimpico português (1920-1957) (Sporting, Bi-Semanário Desportivo, Porto, 4/06/1926).O CNL representou Portugal neste campeonato.

IIª. República (1926-1974)

(Ditadura)

Nos anos trinta, marcados por regimes ditatoriais e brutais conflitos mundiais, o remo continuou a ser um desporto bastante popular. O grande dinamismo na prática do remo passou para o centro e norte do país. O melhor exemplo desta situação é dado pelas conquistas da Taça Lisboa de 1930 até 1974. A ANL ainda conquistou a Taça em 1931 e o Ginásio Clube Português em 1935. Nesta altura outras potências já se elevavam no remo nacional. O Fluvial (Porto) venceu em 1930 e 1932 e o O Sport Clube do Porto em 1933. A Associação 1º de Maio (Figueira da Foz) conquistou-a em 1933, 1934, 1936, 1937, 1938 e 1943. O Sporting Clube Caminhense (federou-se em 1934) impôs-se em 1939, 1940, 1941, 1945, 1946, 1947, 1952, 1957, 1959, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968. Os Galitos ( federou-se em 1937), não tardou disputar esta hegemonia vencendo em 1942, 1944, 1948, 1949, 1950, 1951, 1953, 1954, 1955, 1956, 1958 e 1966. O Fluvial voltou à ribalta conquistando a Taça em 1969, 1970 e 1972. O Grupo Desportivo da CUF, em 1971, interferiu nesta domínio e conquistou a Taça. O Caminhense volta a impor-se em 1973 e 1974, conquistando a taça e fechando este longo período.

Os campeonatos nacionais de remo, a partir de 1931, passaram a ser organizados segundo normas internacionais. No campeonato nacional de 1934, por exemplo, organizado pelo Fluvial e o Sport Clube do Porto, bateram-se records de assistência. O Fluvial conquista na altura a taça "1ª. Exposição Colonial Portuguesa". O mesmo aconteceu nesta altura nas provas realizadas na Figueira da Foz. Em Lisboa, as condições eram pouco propícias a grandes aglomerações. A única "pista" possivel era a da Junqueira, onde se disputou em 1934 a Taça Tejo, ganha pelo Sport Club do Porto !

Foram passos importantes, embora lentos, na direcção da internacionalização do remo em Portugal para isso contribuiu a promoção turistica de Cascais e da Figueira da Foz, assim como o afluxo de milhares de refugiados a partir do começo da Guerra Civil em Espanha (1936-1936), perlúdio da II Guerra Mundial. Na "Linha" (Estoril e Cascais), realizaram-se eventos de dimensão internacional como as Regatas Internacionais do Estoril (1936), com a presença de franceses, holandeses, ingleses e belgas, disputando-se a Taça Portugal e a Taça Presidente da República Francesa. Foi na altura organizado também o primeiro campeonato de Portugal de outriggers de 8, ganho pelo CNL. A principal modalidade nautica em Cascais era a vela e não o remo.

Na Figueira da Foz, entre 1933 e 1939 voltou a ser disputada a Taça da Vitória, com grande sucesso. No primeiro ano apenas concorreram clubes nacionais. Nos dois anos seguintes, a Taça foi ganha por uma equipa da França, tendo participado também uma equipa de Barcelona. Um equipa de Inglaterra ganhou em 1935 e 1936, registando-se a participação de equipas de Espanha, França. Em 1937 venceu uma equipa da Holanda, contra equipas de Portugal, Inglaterra e da Bélgica. Em 1938 e 1938 ganhou uma equipa da Inglaterra, registando-se a participação de equipas da Holanda, França, Bélgica e como sempre de Portugal. Ainda na Figueira da Foz, em 1938 e 1939, disputou-se uma taça de homenagem ao ditador Salazar (1938 e 1939), oferecida por 68 câmaras municipais, contando com a participação de clubes da Holanda, Inglaterra, Alemanha e a Bélgica.

Em Aveiro, Os Galitos, num dinâmica de afirmação nacional organizam com êxito a Regata de Outono em 1937, 1938, 1939, 1940 e 1944. A conquista do campeonato Ibérico, em 1942, foi o coroar deste trabalho de afirmação e o inicio de um período de hegemonia no remo nacional.

A Mocidade Portuguesa (MP), desde a fundação em 1936, que tinha entre os seus objectivo a promoção da prática do remo, tendo criado centros de treino em Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Barcelos, Figueira da Foz e Setúbal. Em colaboração com a Federação Portuguesa de Remo, na altura subordinada à Direcção-Geral de Educação Física, Desportos e Saúde Escolar, organizava campeonatos escolares regionais e nacionais de remo. Estes campeonatos escolares a partir de 1943 passaram quase que exclusivamente a para a alçada da MP. Para além do "aprimoramento da raça", o seu principal objectivo era recrutar jovens que se quisessem dedicar à vida no mar (M.P. -Direcção dos Serviços de Educação Nautica, Guia para o funcionamento dos Centros de Vela e de Remo, 1947). Estas regatas escolares tinham troféus "perpétuos": Taça Dr. Mauperrin Santos, Taça Soares Franco e a Taça Nobre Guedes. A Brigada Naval da Legião Portuguesa, com objectivos para-militares, envolveu vários clubes como a ANL na organização de campeonatos nacionais. Em 1945 registe-se a realização do campeonato nacional universitário.

Em plena IIª. Guerra Mundial destaque para a realização dos campeonatos peninsulares: 1942 (Fig. da Foz, vitória dos portugueses em 4 -Galitos, e dos espanhóis em 8); 1943 (Barcelona, ganharam os espanhóis); 1944 (não se realizou); 1945 (Viana do Castelo, vitória em 8 - Galitos de Aveiro e em 4 - Sporting Caminhense); 1947 (Lisboa, vitórias em 8 -Galitos, em 4 - Sporting Caminhese, e espanhóis em esquife); 1948 (Barcelona, vitória dos espanhóis em esquife, e dos portugueses em 8 e 4- Galitos); 1950 (Fig. da Foz, os portugueses venceram a 8- Galitos e perderam a 4). A ideia deste campeonato partiu da ANL, mas já nos anos vinte foi organizado pelo CNL uma prova luso-espanhola com idêntico propósitos (FPR, Anuário de 1947, p.22).

As estatísticas da Federação Portuguesa de Remo dão conta uma expressiva difusão do remo. Em 1946 haviam 24 clubes federados com cerca de 7.000 atletas, dos quais 500 participavam em centenas de provas. O número de instrutores ou treinadores ascendia 60. Existiam no país cerca de 250 barcos apropriados para o remo (FPR, Anuário de 1947). A FPR tinha como objectivos a construção de uma pista de remo em Portugal e a realização de um campeonato europeu de remo no país. Um numerosa comitiva, em 1946, deslocou-se à Suiça para observar a prática do remo, o fabrico de barcos e para recrutar um treinador !.

A honrosa participação nos Jogos Olimpicos de 1948 (Londres), permitiram avaliar o potencial do remo em Portugal face a outros países.

A ANL em meados dos anos cinquenta continuava a ser o clube com maior número de Taças Lisboa. No entanto, a partir dos anos trinta, os clubes do norte do país haviam-se tornado verdadeiras potencias no remo, a que não era alheio as condições mais propícias à sua prática que existiam nos rios Lima, Douro, Vouga e Mondego. Condições que não se verificavam no Rio Tejo, junto a Lisboa, marcado por uma constante agitação, não apenas maritima mas também de tráfego de embarcações. Três novos clubes surgiram nesta década: o Grupo Desportivo da Figueira da Foz (1950), a União Desportiva Vilafranquense e o Grupo Desportivo da TAP (ambos em 1957).

Nos anos sessenta, sobressai os Jogos Luso-Brasileiros de 1960, 1963, 1966, 1969 e 1972. Nesta altura eram muitas as criticas à MP pelo condicionamento que impunha aos clubes de remo. Foram criados escalões no remo em Portugal. Devido à Guerra Colonial (1961-1974), alguns clubes como o Clube Fluvial do Porto são envolvidos em campanhas de propaganda de apoio á guerra (cfr. Orlando da Rocha Pinto - "Glória aos que Lutam !!!!", Boletim Cultural Amigos do Porto, 2012, nº.30.

As estatísticas da FPR revelavam certa estagnação no remo: 24 clubes (2 de Angola e Moçambique), 2.000 remadores federados dos quais 500 participavam em competições regionais e nacionais. 300 embarcações apropriadas (Federação Portuguesa de Remo. 1920-1970).

IIIª. República

(Democracia )

Derrubada a Ditadura em Abril de 1974, o remo prosseguiu um caminho mais sólido como modalidade desportiva... e de lazer. Em Novembro de 1974 os centros de remo e canoagem da MP, LAG e CUL foram integrados na Direcção-Geral de Desportos (DGD), a saber: Caminha, Viana do Castelo, Braga, Esposende, Porto, Aveiro, Figueira da Foz, Lisboa, Vila Real de Santo António, Funchal e Ponta Delgada. Propunha-se então quatro modalidades de remo que deviam ser apoiadas: o remo escolar, o remo para trabalhadores, o remo para deficientes motores e sensoriais e o remo para todos. A situação económica que se vivia não era favorável a grandes investimentos. O principal problema era a falta de construtores nacionais que fabricassem embarcações para estas modalidades desportivos. Em 1975, a DGD registava a existência de 22 clubes de remo, com 1557 atletas masculinos e 43 femininos. Nos campeonatos nacionais participavam apenas 15 clubes e 434 atletas, em embarcações de SHELL e YOLLE. Fruto de algum investimento público em 1982, o número de clubes aumentara para 31 e os federados femininos para 124 e os masculinos para 2174 (Fonte: Desporto - revista, nº.7, Julho/Agosto de 1983).

No centro e norte do país, algumas câmaras muncipais descobrem no remo uma actividade desportiva com um enorme potencial, em diversos domínios, para a promoção dos respectivos concelhos.

Os Galitos, continuando retomando a seu poderio dos anos quarenta e cinquenta voltaram a vencer a Taça Lisboa em 1975, 1978 e 1979, numa altura se afirmavam novos clubes.

Após o fim da Ditadura e do isolamento internacional a que o país esteve sujeito, sobretudo a partir de 1977 começa a participação sistemática de atletas portugueses em regatas organizadas pela FISA e outros eventos além fronteiras.

O Sporting Club Caminhense, o clube que maior número de vezes venceu a taça Lisboa em 1976, 1977... e em 2020.

No País, em 1980 registava-se um crescimento do número de atletas: 2278 estavam inscritos na FPR, tendo participado nas provas 21 clubes. A ANL, depois de 1931, voltou a vencer a Taça Lisboa neste ano. Nesta década Introduz-se o remo indoor em Portugal, e faz-se uma divisão entre remo de pesos ligeiros e pesos pesados.

Entre os clubes que se formaram após 1974 destaca-se o ARCO- Associação de Remadores para a Competição (1977) que conquista da Taça Lisboa de 1981, 1982 e 1983, entre outros sucessos deportivos. A CM de Viana do Castelo prontifica-se a criar estruturas adequadas à prática do remo, mas impõe uma condição: a fusão do clube com o Clube Nautico (fundado em 1937). Desta união surgiu em 2012, o Viana Remadores do Lima, que dois anos depois já conquistava a Taça de Lisboa, seguindo-se 2016 e 2017.

O Clube Fluvial Portuense, fundado em 1876, é a a coletividade desportiva mais antiga do Porto e a terceira mais antiga de todo o país.

O mítico Clube Fluvial Portuense impôs-se e conquistou a Taça em 1977... 2018, 2019, 2021 e 2022 ! O seu belissimo Hino, escrito em 1880, desafiava os remadores a voarem como aves, sobre as rudes carícias do mar, afirmando que não havia motivo para desanimos: "Quem venceu, já talvez foi vencido/ E o vencido será vencedor". Deixava também um conselho: Para vencerem era necessário serem audaciosos, determinados, perpicazes e sobretudo terem o remo e a vontade de vencerem inscritos no coração.

Posto Nautico do Club Fluvial Portuense, na marginal de Gaia, inaugurado a 14 de Novembro de 1948. O anterior foi destruido em Agosto de 1932 quando desabou um prédio vizinho.

ANL - Remo de Lazer

O remo de Lazer, antes denominado de "manutenção", segundo nos referiu Pedro Duarte, só depois do IIº. milénio é que começou a adquirir na ANL um grande desenvolvimento. Esta prática desportiva, sem objectivos competivos, é aquela que no nosso entendimento é a que melhor materializa a filosofia do remo. Para além da competição amadora e alta-competição, o remo desde os anos 90 do século XX, tem vindo a ajustar-se a diferentes destinatários, temos hoje o remo de turismo, remo de lazer, remo de mar, remo indoor ou o remo adaptado.

Devido às condições do rio Tejo, por vezes muito agitado, os barcos utilizados são o Yole, que devido a serem largos e bastantes estáveis, permitem treinos em segurança. A ANL possui também Yoletes de 4 remadores e timoneiro, que oferecem idênticas condições de segurança.

Na ANL, em Setembro de 2022 podemos escolher a melhor equipa e treinador de remo de lazer: Filipe Nuno Monteiro.Todas as exigências físicas do remo são rigorosamente cumpridas, e há uma dimensão que nos agrada e é valorizada: a convivialidade.

Cada treino é sempre um momento de reencontro de remadores, no qual participam frequentamente remadores de outros países. A foto do grupo nessas ocasiões torna-se especial para mais tarde recordar. A ANL é o mais antigo clube nautico da Peninsula Ibérica e um dos trinta mais antigos do mundo.

ANL- Remo Adaptado

A ANL parte do princípio que a prática do remo não está limitada pela idade, nem algumas limitações físicas. Prova disso é o esforço que vem fazendo de difundir o remo para todos. A realização do European Meeting Rowing for All (Encontro Europeu de Remo para Todos), 14 e 15 de Abril de 2023 em Lisboa, foi uma partilha de experiências do remo inclusivo, pretende ser mais uma demonstração deste objectivo. O remo adaptado desde o IIIº. milénio tem feito grande progressos em Portugal. Prova disso foi a eleição em 2001 de José Nunes para prersidente da Comissão do Remo Adaptado. Em 2003 a medalha de bronze obtida no campeonato do mundo em Milão, e em 2005 medalha de prata noutro campeonato do mundo...

 

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