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                 João Soares, presidente da CML 
                  (1995-2001) 
                Textos que não pode deixar de ler: 
                "Parte II. Após as Eleições
                  : Lisboa ?"  (2002) 
                (Depois das eleições autárquicas de 2001 apareceram nos 
                  jornais inúmeras denúncias sobre a gestão danosa da CML por parte de João 
                  Soares.)   
              
              "O leitor menos atento à
                realidade portuguesa, e em particular à lisboeta, ao ler os jornais após
                as eleições de 16 de Dezembro de 2001, certamente já se sentiu confuso muitas vezes. Por momentos terá já pensado se as notícias que são publicadas não se
                referem a uma qualquer
                cidade da Calábria ou da Sicilia. Não as imagina possíveis em Lisboa. O caso não é para
                menos. Não têm faltado noticias com os condimentos
                de uma típica história de Don Corneole: 
                1.Políticos influentes e acima
                de toda a suspeita, que fazem uma utilização no mínimo suspeita do
                património e dos dinheiros públicos. Ninguém espera  que tenham actuado
                sozinhos, certamente estavam apoiados numa vasta rede interesses
                convergentes.
               2. Não é
                difícil imaginar nestas situações, que em silêncio se encontram dezenas de
                altos e baixos funcionários camarários conhecedores destes casos, mas que se
                mantiveram sempre calados, porque desta forma esperavam ter cobertura para as suas próprias manigâncias.
               4.A tudo
                isto não tem faltado as habituais ligações à maçonaria e a uma vasta rede de
                amizades e compadrios.
                5.Como
                em Itália, as grandes empresas de construção civil são uma
                presença constante em todo o processo. 
               Estamos
                perante um tipo de jornalismo que irá
                levantar uma profunda inquietação aos historiadores portugueses no futuro.
                A ser verdade um décimo daquilo que insinuam ou sugerem nas  entrelinhas,
                estes ver-se-ão  na obrigação de terem que refazer
                completamente as biografias oficiais de muitas das gratas figuras deste
                país. Eventualmente terão mesmo que fazer estágios com os seus colegas
                italianos que capitalizam uma longa experiência neste tipo de biografados.  
               Leia
                o leitor com atenção  cinco destes casos e diga se não temos razão.
                Caso 1: A Dádiva  
              "Quem
                acusa João Soares de nada ter feito enquanto esteve na Câmara
                Municipal de Lisboa é muito injusto. Já depois da derrota eleitoral de
                16 de Dezembro, Mário Soares, no passado sábado, na RDP/Antena 1,
                apresentou ao país a obra do filho. Explicava Mário Soares as virtudes
                da sua fundação quando, de repente, Sena Santos resolve questioná-lo
                acerca da localização da mesma. E não é que Mário Soares esmiuçou
                tudo, provando que, afinal, o seu filho deixou obra em Lisboa? Atente-se
                na resposta: "Eu tinha pedido à Câmara de Lisboa, ainda no tempo
                do dr. Jorge Sampaio, que me arranjasse um pequeno espaço, ou até um
                terreno, para eu construir. A ideia era construir de origem este edifício.
                Depois, dentro da câmara, o meu próprio filho, João Soares, que era
                vereador do dr. Sampaio - era encarregado do pelouro da Cultura -,
                disse-me: ‘Eu acho que há um prédio...’ Quando me indicaram este
                prédio, eu vim cá ver e achei logo que era o sítio ideal, porque é
                um sítio onde se passa a política. Temos aqui a sede da democracia
                portuguesa, que é o Parlamento, e depois, a seguir, para trás, o palácio,
                a residência oficial do primeiro-ministro. Portanto, não se pode estar
                mais central!" Uma resposta que é uma delícia, como tanto gosta
                de dizer João Soares." Diário Digital (Dezembro 2001).
                Caso 2: O Aluguer   
              Publico, 18 de Janeiro de 2002 
              João Soares Deixa como Herança
                Rendas do Cinema Europa Até 2003 
              Ex-presidente da câmara
                assumiu, em nome da autarquia, compromissos que eram de Carlos Cruz, no
                valor de 70 mil contos (349.158 euros) 
              O
                executivo da Câmara de Lisboa descobriu que herdou da gestão de João
                Soares o arrendamento do cinema Europa até Abril de 2003, estando
                obrigado a pagar mensalmente 2059 euros (4182 contos) pelas instalações
                - que estavam alugadas à produtora Carlos Cruz, um dos mandatários de
                campanha da coligação Amar Lisboa. 
              No total, ascendem a 349.158 euros (cerca de 70 mil contos) os
                compromissos assumidos por João Soares, que em nome da câmara assinou,
                no passado dia 30 de Novembro, um contrato no qual comprometeu a
                autarquia a tomar a posição contratual que ligava os proprietários
                privados do cinema Europa, na Rua Francisco Metrass - representados por
                Maria Manuela Pimentel -, à empresa do apresentador, a Carlos Cruz
                Audiovisuais (CCA). 
              O contrato fora estabelecido por Carlos Cruz em Novembro de 1997. A
                alteração da posição contratual da CCA, que passa para a autarquia o
                aluguer do cinema, prolonga-se por cinco anos e seis meses, ou seja, até
                30 de Abril de 2003. Este novo contrato foi precedido de um despacho do
                ex-presidente da câmara, datado de 28 de Novembro, no qual o autarca
                destacava "o papel de relevo do cinema Europa", autorizando
                que a câmara adquirisse, a título gratuito, a posição que a empresa
                Carlos Cruz Audiovisual detinha no arrendamento do cinema Europa. 
              Apesar de Carlos Cruz só em Dezembro passado ter abandonado as
                instalações - como o próprio disse ontem ao PÚBLICO -, o contrato
                previa que a câmara pagasse já a renda desse mês (20.859 euros) aos
                proprietários. O motivo alegado foi a autorização dada por estes para
                que a autarquia utilizasse já em Dezembro o local arrendado. Mas tal não
                aconteceu. 
              E para que queria então a câmara o cinema? João Soares justificou
                o aluguer com o facto de a Junta de Freguesia de Santo Condestável
                necessitar de um espaço condigno para as suas actividades culturais.
                Essa necessidade passou a constar num protocolo assinado a 1 de Dezembro
                entre a câmara e a junta, a qual, debatendo-se com dificuldades
                financeiras de vária ordem, dificilmente teria dinheiro para suportar o
                funcionamento da antiga sala de espectáculos. Tanto mais que o cinema
                carecerá de obras para poder funcionar como uma espécie de centro
                cultural da junta de freguesia, já que foi modificado, quando, nos anos
                90, passou a servir de estúdio para gravação de programas da RTP. 
              Mas o protocolo garantia também alguma cobertura financeira, nesse
                aspecto, embora não quantificada. Dizia apenas que a câmara se
                comprometia a pagar à junta um subsídio anual a definir, destinado a
                suportar os encargos necessários para contratar meios humanos e técnicos
                necessários à prossecução das actividades culturais. 
              Coincidência ou não, a necessidade de a junta de dispor de um espaço
                cultural condigno tinha um prazo que, aliás, consta do referido
                protocolo: os mesmos 16 meses do contrato de Carlos Cruz, cuja posição
                passara entretanto para a câmara. 
              O novo presidente da câmara, Pedro Santana Lopes, disse ter sido
                surpreendido por esta decisão do seu antecessor. "Não percebo por
                que é a câmara tomou esta posição, ficando com mais um espaço, numa
                cidade onde a autarquia já tem muitos, ainda sem uma política cultural
                definida. Ainda por cima, quando ali há a necessidade de fazer
                obras." O actual executivo diz que vai "estudar a situação"
                e decidir de que forma resolverá o problema. 
              Contactado pelo PÚBLICO, o ex-presidente da autarquia João Soares
                recusou-se a prestar declarações.
                 Artigo de FERNANDA
                RIBEIRO
               Caso 3: Um Estádio de
                Futebol & outros negócios imobiliários e gasolineiros 
              Em fins de Janeiro de 2002, a
                comunicação social faz eco de uma chantagem que a CML estaria a ser alvo por
                parte de um construtor civil e de um presidente de um Clube de Futebol. Estes
                exigem que esta se comprometa a satisfazer os compromissos que em privado,
                João Soares lhes teria feito, enquanto era ainda presidente da CML.  Mais 
              Caso 4: Irregularidades
                & Irregularidades, SA 
              Na primeira Assembleia Municipal ,a 5 de
                Fevereiro de 2002, o novo presidente da Câmara de Lisboa, Pedro Santana
                Lopes, afirma que se deparou na autarquia com "despesas não
                cabimentadas, num valor que já ascende a cerca de um milhão de contos".
                Estas despesas, ainda por pagar, reportam-se a obras efectuadas na Praça da
                Figueira e no Rossio. O caso promete novas revelações.  
              Caso 5: As Torres da Imobiliária
              e a Distracção do Dirigente Camarário 
              
              Em
                fins de Fevereiro de 2002, um novo caso abala a já limitada confiança dos
                municipes na CML: as razões que levaram ao pedido de demissão do director do
                Departamento de Projectos Estratégicos e Licenciamentos Especiais (DPELE)
                Catarino Tavares.
               O
                caso é o seguinte: a CML desde o tempo de Jorge Sampaio que se opõe à construção
                de duas torres no Centro Comercial Colombo. A zona está saturada de betão
                armado, dado que por aqui a especulação imobiliária tem arrasado tudo. O caso
                foi levado pelo municipio a tribunal. No decorrer do processo, este informou a
                CML que se não respondesse a algumas questões o caso seria encerrado e haveria
                lugar a um deferimento tácito (a autorização para a construção das torres).
                A carta do Tribunal entrou na CML no dia 30 de Janeiro e é desde logo retida na
                DPELE. Seguindo uma prática, pelos vistos habitual na CML, só no último dia
                (19 de Fevereiro) e á noite (20horas), quando já passavam duas horas e meia
                sobre o prazo de resposta, a vereadora responsável pelo pelouro é informada
                por Catarino Tavares. Bastava então apenas encolher os ombros, lamentar o
                sucedido, aceitar o "facto consumado" e eventualmente distribuir o que
                houver sido acordado, como afirmam alguns mais acostumados a estas práticas.  
              Notas Finais: 
              A DPELE foi criado na parte final do último
                mandato autárquico de João Soares e foi por lá que passou a maior parte dos
                processos de grandes empreendimentos cujas obras se iniciaram sem prévia emissão
                do alvará de construção. 
              
              O projecto do complexo do Colombo foi apresentado
                no último mandato do ex-presidente Krus Abecassis, mas, após a vitória da
                coligação de esquerda, presidida por Jorge Sampaio, nas eleições autárquicas
                de Dezembro de 1989, foi congelado e depois reformulado. O centro comercial foi
                inaugurado em 1998, por João Soares.  
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